Entrevista

Ana Silva: “A imunidade de grupo não vai acontecer até ao final do ano”

11 mar 2021 17:37

Coordenadora do programa de vacinação do ACeS Pinhal Litoral, entende que o não uso de máscara revela uma ignorância a toda a prova. As variantes são um quebra-cabeças para a comunidade científica

Ana Silva alerta para que se continue a cumprir o distanciamento, o uso de máscara e a higienização das mãos
Ricardo Graça

Um ano de pandemia: quando o vírus chegou a Portugal já estávamos preparados?
Não. Estávamos alertados. Não tínhamos consciência que o problema ia ser tão grave. Recordo no final de Dezembro [2019] que num sábado à noite o meu telefone começou a tocar incessantemente. Tinha estudantes portugueses na China a pedir ajuda. A China ia entrar em confinamento e queriam saber o que fazer. Fiquei um pouco atrapalhada sem saber o que responder. Na altura até pedi ajuda ao presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina do Viajante, que me disse que a melhor opção seria fazê-los regressar a Portugal. Sabíamos que o vírus se ia alastrar a outros países, mas não sabíamos bem o que fazer. Estávamos alertados, não estávamos bem preparados. Ninguém tinha consciência da projecção que isto ia ter.

Houve contradições na mensagem da DGS, como o caso das máscaras. Não havia máscaras para todos?
Não creio que tenha sido isso. Houve alguma falta de experiência. Essa foi uma das grandes gafes da Direcção-Geral da Saúde [DGS] e não foi só da directora-geral. Ela tinha por detrás um colega que foi o seu grande apoio durante muitos anos, o dr. Francisco George, antigo director-geral, que ainda era mais radicalista em termos da não necessidade do uso de máscara. A falha foi reconhecida, mas não há dúvida: a grande falha da DGS foi não reconhecer a utilidade da obrigatoriedade do uso de máscara. Foi o grande calcanhar de Aquiles da DGS.

Isto não causa descrédito e incentiva os movimentos negacionistas?
A DGS tomou esta atitude pelo facto de não haver ainda um conhecimento muito perfeito da facilidade de transmissão destes vírus e da sua infecciosidade. Foi isso que levou a que se tivesse negligenciado a necessidade do uso de máscara. Depois de todos os estudos e de toda a experiência, que sabemos que a higienização das mãos é fundamental, mas o distanciamento e o uso de máscara são pedras vitais neste combate. O não uso de máscara revela uma ignorância a toda a prova. Depois de um ano de trabalho, todos os profissionais deste serviço têm dado tudo por tudo, esquecendo as suas famílias. Temos colegas que se dedicam das 8 às 21 horas. A nossa coordenadora é das pessoas que mais horas tem dado a este serviço, é preciso mandá-la para casa. A experiência que temos tido mostra que, quando apanhamos casos a responsabilidade está sempre associada à falta de máscara. Ainda este fim-de-semana tivemos um grande surto numa família, com o envolvimento de dois idosos, e é sempre a mesma história: estão em família não usam máscara. Continuam a deixar o nariz de fora ou a pôr a máscara a proteger o queixo. Continuamos a ver gente que recusa o uso de máscara. Nas empresas e noutros meios as pessoas contagiam-se sistematicamente nas horas da refeição. Até mesmo surtos entre profissionais de saúde tem sido a mesma coisa. As pessoas tomam as refeições não respeitando as regras que são impostas pelas entidades patronais e pelos superiores. Acabam a refeição e continuam na conversa sem máscara. O que deveria ser feito, até nos restaurantes, era retirar a máscara exclusivamente para comer. Terminavam a refeição e colocavam a máscara para conversar um bocadinho. A realidade é que isto não foi feito. Há entidades pat

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