Entrevista

António Oliveira: “Nem em outras crises as pessoas sentiram tanto a fragilidade que sentem hoje”

7 dez 2023 10:39

António Oliveira, presidente do Banco Alimentar Leiria-Fátima, afirma que a classe média baixa está estrangulada com as despesas. Os pedidos de ajuda de quem trabalha têm vindo a aumentar

António Oliveira ficou surpreendido com a quantidade de azeite, óleo, atum e leguminosas em conserva que foi alcançada
Nuno André Ferreira

A inflação tem dificultado a vida a muitas pessoas. Os pedidos de ajuda têm aumentado?
Já no período da Covid, como tem um meio empresarial muito forte e económico, Leiria não sentiu a crise que as grandes cidades sentiram. O desemprego na região de Leiria, nunca foi o problema das pessoas que estavam a beneficiar da ajuda alimentar. Naturalmente, a tradição são as pessoas sem emprego que precisam deste apoio. No entanto, de algum tempo para cá começámos a notar que Leiria começava a ter necessidades sem ter desemprego. Foi a partir desse momento que percebemos que o perfil do beneficiário estava a mudar lentamente. São pessoas que estão empregadas, que têm família, em que os dois trabalham, mas estão sem condições de fazer face às despesas para as quais tinham estruturado a sua vida. A conjuntura mudou e as famílias ficaram a braços com uma crise tremenda e com um orçamento extremamente apertado para fazer face àquilo que foram os compromissos que assumiram. Por isso, sim, a inflação e tudo o que daqui advém colocou as pessoas numa situação bem mais difícil e o perfil dos beneficiários mudou precisamente por causa desse fenómeno. Já não são só os desempregados que precisam de apoio, são as pessoas que trabalham e que têm um ordenado.

Para essas pessoas é mais difícil pedir ajudar? Sentem vergonha?
Estas pessoas quando dão o passo de pedir ajuda está dado. Não há vergonha, não há complexo de inferioridade. Há o pedido de ajuda sem problema. Fala-se sem problemas, sem prurido, numa conversa absolutamente normal, aberta, serena, sem o peso que a circunstância em si representa. As pessoas não estão, de facto, habituadas a pedir, mas a partir do momento que sentem a necessidade, avançam sem pruridos.

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