Entrevista

António Pedro Lopes: "A escola é o primeiro teatro, o primeiro grande centro de artes"

18 jul 2021 14:49

Ligado ao Festival A Porta durante anos, e também ao Tremor, lidera actualmente a candidatura de Ponta Delgada a Capital Europeia da Cultura

António Pedro Lopes
Vera Marmelo

Depois de tantos anos fora dos Açores, liderar a candidatura de Ponta Delgada a Capital Europeia da Cultura 2027 foi um desafio irrecusável?
Eu estava bem, no sentido em que tinha projectos, tinha um que era o filão de tudo, que era o Tremor, depois fazia um festival nos Estados Unidos, colaborava com o Festival A Porta, em Leiria, e ainda no teatro com os espectáculos da Raquel André. A minha relação com os Açores, apesar de ter uma certa distância, é facto que em 2013 criámos o Tremor e com o Tremor essa falta de sentido de pertença que eu sentia com os Açores, que era uma relação amor ódio, ela foi-se transformando e foi ganhando um sentido de missão, que me foi obrigando a passar ao longo dos últimos anos a pior parte do ano aqui, os invernos, quando chove e quando as tempestades com nome de mulher visitam o arquipélago. Era uma proposta irrecusável? Não sei, mas tomei-a com sentido de missão, que de alguma forma já existia com o Tremor, ou porque de alguma forma eu já velava como activista cultural pela cena e pelas diferentes comunidades, pelos artistas, que trabalham aqui, pensar como lhes dar espaço, lhes dar condições, lhes dar posições de visibilidade e ao mesmo tempo quebrar fronteiras de públicos, de quem é que participa, de quem é o protagonista e de como a cultura pode dar espaço e discussão a outras vozes e outros lugares.

Implicou compromissos, entre eles, deixar de estar ligado à organização da Porta pela primeira vez em várias edições.
Na Porta, eu tinha um envolvimento ainda maior do que nos anos anteriores. Eu sei da falta de recursos humanos e financeiros da Porta, eu sei do quão amor se mete para aquilo acontecer e acontecer de ano para ano, resistir, existir e insistir. Não é só um mote bonito, é verdade. E não é só específico se pensarmos a Porta, é transversal a quem faz cultura, principalmente, depois desta crise humanitária. Foi difícil, mas as coisas ajustaram-se e também tomei este compromisso como um até já.

No Tremor e na Porta imagino que se encontram princípios que quer aplicar na candidatura de Ponta Delgada, por exemplo, a construção de comunidade?
É inevitável vir de um lugar e trazer essa bagagem e perceber como é que ela pode ser aqui aplicada, principalmente, quando ela é uma caixa de ferramentas que é elástica. Ela não é uma fórmula de fazer, é um modo de operação. É uma forma de entender que os actores são as pessoas que aqui vivem, são os habitantes que aqui estão, e o cenário é esta imensidão, é esta natureza, é este espaço, são estas localidades que são animadas e que são vividas por quem aqui vive. E esse é o princípio base. O outro princípio base é a ideia de colaboração, de cooperação e de conversa. Nada se faz sozinho. Dar as mãos, olhar para o lado, olhar para a frente, encetar uma conversa, seja para resolver alguma coisa, seja para entender as sincronias que existem, é o primeiro passo fundamental para se construir alguma coisa que possa ter um impacto. Porque a partir daí cria-se logo comunidade, cria-se logo um diálogo. E uma outra ideia, que é a ideia de partilhar a imaginação. Isto é sobre pensar o futuro, é sobre fazer futurologia, e como tal, só pode ser um processo de co-responsabilização. Ele acontece no terreno, de uma forma ascendente, de baixo para cima e sempre em conversa, sempre face a face.

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