O +MPM veio romper com a tradicional bipolaridade de governação na Câmara da Marinha Grande, que se decidia entre PS e CDU. Esta mudança surge mais por desgaste destes partidos ou pelo programa diferenciador apresentado pelos independentes?
Terá sido por ambas as partes. Há uma responsabilidade grande não apenas do projecto, mas da equipa que nós apresentámos. Porque os projectos – basta olhar para todos os programas eleitorais - em 90% são coincidentes. E tem sentido. Nós vivemos todos na mesma terra, sentimos todos as mesmas necessidades. Não há-de ter sido tanto pelo programa, há-de ter sido pela capacidade de execução e da equipa que tem por detrás. Foi o factor que as pessoas relevaram na sua intenção de voto. Perceberam, no grupo que estávamos a constituir, que era uma equipa com competências, com provas dadas na vida, que era uma equipa sem experiências políticas, mas com experiências de outras vidas, de outras questões. Acho que isso foi muito importante. No entanto, não há que desprezar o mau estado sentido pelos cidadãos relativamente à gestão autárquica que existia nos últimos quatro anos. Portanto, uma coisa teve a ver com a outra. Qual teve mais peso? Não consigo dizer.
Que responsabilidade acrescida que lhe traz esta eleição perante a Associação Nacional dos Movimentos Autárquicos Independentes (AMAI)?
Traz bastante. Por ser presidente da AMAI, acabei por ser o símbolo dos grupos de cidadãos. E além de ser o símbolo, sou o único, dos 19 eleitos, que nunca teve um passado num partido, nunca teve militância. Não é que não tenha votado em todas as eleições. E votei em partidos, como todos nós. Este projecto começou em 2013, caminhou sempre fora dos partidos. Não contra os partidos, mas como alternância, como alternativa àquilo que os partidos fizeram. Portanto, hoje quando as pessoas olham para nós, para mim especialmente, mas também para o que aconteceu no +MPM na Marinha Grande, olham do ponto de vista do exemplo. E eu acredito piamente que irá ser o futuro do nosso País. Pessoas agarradas a projectos, agarradas a causas e agarradas também a pessoas, a líderes, e que se desprendem daquela costela partidária que frequentemente o cidadão tem. E, como se sabe, hoje [os partidos] estão muito degradados. Temos essas imagens dos partidos pelos exemplos que eles dão. Os cidadãos não são culpados. Os partidos é que criaram condições para que hoje, quando as pessoas olham para eles, olhem no sentido depreciativo.
Alguns dos que foram agora eleitos como independentes surgiram após dissidências partidárias. Isso não os descredibiliza?
Não. Os grupos de cidadãos eleitores crescem à volta de uma causa, de uma pessoa… E é natural que os cidadãos tenham tido um passado. E pode ter sido na política, embora não tenha sido esse o meu caso. Mas estive nas associações, nas colectividades, nos clubes, nas IPSS. Quem andou na política é tão legítimo como eu de se candidatar com grupos de cidadãos. Essa questão das pessoas que saem dos partidos e que se expõem para se candidatar com grupos de cidadãos, e que até ganham, para mim, só tem uma leitura. O facto é que os cidadãos, que são quem manda nisto, reconhecem naquela pessoa competências para gerir a sua comunidade. Seja ela vinda de partidos, ou seja ela como eu, vinda de nada.
Das primeiras medidas que tomou após ter sido eleito foi estabelecer acordos com os vereadores do PS. Firmados estes acordos, vai ser possível manter a independência?
A nossa intenção foi sempre, e é esse o nosso sonho, que esta mesa tivesse sete pessoas a poder decidir na câmara. Disse-o antes e hoje mantenho. Gostava que todos pudéssemos ter uma contribuição, de acordo com o que os eleitores nos permitiram. Por isso, nós oferecemos pelouros a todos os outros membros que não foram eleitos pelo +MPM. Já foi possível fazer acordo com o PS. Na altura não foi possível fazer acordo com a CDU, mas continua sempre em aberto e podemos conversar e chegar um dia a acordo.
Nenhuma das partes fechou a porta a um possível entendimento?
Não. No momento em que fizemos o convite foi muito bem recebido pelas pessoas. Depois entenderam é que aquilo que nós na altura estávamos disponíveis para entregar como pelouros, não era aquilo que tinham como expectativa. Isso também é legítimo. São duas maneiras diferentes, divergentes, de olhar para a mesma situação. Nós entendemos que, por termos vindo de um processo de cidadania, por termos vindo de uma profissão, quando chegamos aqui não trazemos nem experiência nem conhecimento político. Nem conhecimento do que é a administração de uma autarquia. Portanto, o que sempre fizemos, antes no MPM e agora no +MPM, foi procurar pessoas por competências. Porque são essas suas competências que são uma mais-valia no interior da organização. Foi isso que fizemos com todos nós que aqui estamos. Procurei que os caminhos que vão percorrer na autarquia sejam de acordo com a experiência profissional de vida que trazem. Ou até de acordo com aquilo que no seu historial, não tendo sido exactamente a sua profissão, foi aquilo a que a pessoa mais deu importância, aquilo que mais se identifica com ela. Mas a outra visão é que as pessoas foram eleitas não pela sua profissão, mas por serem políticos. Entendiam que deviam ter pelouros políticos. Nós entendemos que devemos ter pelouros por competências.
Mas vai ser possível manter a vossa independência?
Eu hoje não sou mais o Aurélio do +MPM. Eu hoje sou o Aurélio da câmara municipal. E os vereadores que aqui estão, venham eles de onde vierem, gostava que eles fossem vereadores da câmara municipal. Tivemos um combate político, que foi um combate elevado. Reconheço e agradeço. Mas o combate político teve de terminar no dia das eleições. Agora vamos empenhar-nos em gerir a autarquia, que é isso que os cidadãos estão à espera que façamos. E não permanentes lutas partidárias ou políticas, que não são um benefício para os cidadãos. No anterior mandato, a oposição foi acusada de manter uma atitude de bota-abaixo que impedia o executivo de avançar com os seus projectos.
Estabelecidos estes acordos, fica tranquilo quanto à governabilidade?
Fico. Essa acusação que foi feita, creio que no período eleitoral, ficou esclarecida. Inclusive, um vereador que tinha tido pelouros disse claramente, num dos debates, que nunca houve uma força de boqueio da oposição. Nestas coisas, há conversas que rapidamente se propagam, mas isso foi ali clarificado e comprovado por alguém que tinha estado no executivo três anos e meio. Daqui para a frente, é fazer da forma como temos feito. Tentar dialogar com toda a gente, inteirar todos os sete acerca dos assuntos que estão na câmara, partilhar os bons e os menos bons – que os há - e aceitar e sugerir que todos possamos contribuir para aquilo que é meu desejo, que é ter uma boa governação.
O + MPM traz para a Câmara e para a Junta da Marinha Grande uma equipa de pessoas experientes noutras áreas, mas com menos traquejo no campo político. É uma vantagem ou também pode trazer dificuldades junto da máquina da Administração Central? Quando falamos das máquinas, seja do ponto de vista regional ou nacional, acredito que a dificuldade que vamos ter é na questão partidarizada que existe muitas vezes nas organizações. Não deve ser esse o princípio. Não devemos estar à espera de concordar apenas pelo simples facto de vestir a mesma cor. Não creio nem quero acreditar que tenhamos essa dificuldade só pelo facto de sermos um grupo de cidadãos.
Embora o +MPM tenha ganho a Assembleia Municipal, acabou por eleger Curto Ribeiro, do PS, para presidir ao órgão. Isso poderá ter defraudado os eleitores que tinham apostado no grupo de cidadãos?
Não. O Carlos Wilson já esclareceu publicamente essa vontade. O que as pessoas nos deram foi responsabilidade para liderar a autarquia durante quatro anos. Ou seja, disseram-nos, mediante essa possibilidade, vocês agora giram-na. Façam de maneira que nós, cidadãos, sejamos beneficiados da gestão que vocês vão tomar. Há quatro anos e este ano também, em todas as assembleias onde pudemos decidir – porque nalgumas nem nos perguntaram nada- tentámos sempre adoptar este conceito. Se uma assembleia é um órgão fiscalizador, entendemos que esse órgão fiscalizador deve ser de uma força política diferente daquela que está no seu executivo. Seja isto nas juntas, seja isto na câmara ou na assembleia municipal. Foi o pressuposto que defendemos há quatro anos. E este ano voltámos a fazê-lo. A bondade deste processo, que é a bondade dos membros, das pessoas
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