Em 2017, publicou o livro "Refugiados da Segunda Guerra Mundial nas Caldas da Rainha (1940 - 1946)" e agora está a terminar a sua tese de doutoramento. Qual é o tema?
A minha tese tem como foco a presença de refugiados judeus e não judeus na zona Centro de Portugal, naquilo que era designado como “residências fixas”, que o Governo português instituiu, de forma a afastar os refugiados da capital e dinamizar localidades turísticas, balneares e termais, como as Caldas da Rainha, que, na sequência do deflagrar da guerra, perderam muito do seu turismo e que, como tinham infra-estruturas - hotéis, restaurantes e pensões – estavam prontas para acolher estas pessoas. Salazar tinha receio que houvesse impregnação dos ideais vanguardistas e democráticos que os refugiados traziam. Eram pessoas que tinham mundo e vivências, partilhavam culturas, viajavam e eram perigosas para o regime do Estado Novo, pois podiam dizer e mostrar que a ditadura não era uma solução. A Curia, o Buçaco, o Luso, a Figueira da Foz, a Ericeira e as Caldas da Rainha, a partir do Verão de 1940, passaram a ser a casa temporária destes refugiados, a quem não foi dada autorização para se fixarem em Portugal.
Leiria não recebeu ninguém?
Creio que não. Desconheço a razão para Leiria não ter sido escolhida, mas pode ter sido por não ser uma localidade turística e balnear, com infra-estruturas adaptadas e afastada da capital, porque, havia esse interesse de manter os deslocados longe da capital. Embora não fosse fácil ir a Lisboa como hoje, era uma zona com boas ligações e alguma centralidade. O objectivo, não nos podemos esquecer, seria também afastar os refugiados de cidades que, mesmo que não fossem muito desenvolvidas, pudessem vir a ter focos de “livres pensadores”. Creio que as zonas balneares foram escolhidas por estarem mais longe e por a população estar já habituada a acolher estrangeiros em período de veraneio.
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