Entrevista

Entrevista | D. António Marto: A corrupção “é um cancro social, que está a lançar metástases por todo o corpo social”

26 out 2018 00:00

"A corrupção é como o roubo. Começam por pequenos furtos para depois se tornarem grandes ladrões", diz o cardeal, bispo de Leiria-Fátima.

Maria Anabela Silva

Partilha da opinião do bispo de Hiroshima que, na recente peregrinação ao Santuário de Fátima, apontou “a arrogância como o maior inimigo do mundo”?

Arrogância entendida como a soberba humana que prescinde de Deus e quer fazer por si tudo e que se vira contra a própria Humanidade, como demonstraram as duas guerras mundiais e a existência de regimes totalitários e ateus, quer de direita quer de esquerda. Penso que foi isso que ele quis dizer, chamando a atenção para a necessidade de uma atitude de mais humildade, por parte da Humanidade, com maior aceitação de uns e de outros e maior acolhimento, deitando abaixo os muros de divisão e de separação.

À arrogância acrescentaria também o mal da corrupção?

A corrupção é um cancro social, que está a lançar metástases por todo o corpo social e que está a ser aceite de uma maneira passiva. As pessoas sentem-se indignadas quando vêem na televisão determinados casos de corrupção, mas depois, na prática quotidiana da vida social, admite-se isso. A corrupção é como o roubo. Começam por pequenos furtos para depois se tornarem grandes ladrões. O mesmo se passa com a corrupção. E isso destrói o tecido social, destrói a confiança e a convivência pacífica. É uma cultura de morte. Morre a honestidade, morre a confiança e a convivência social.

Sente que, em Portugal, há esforços para combater esse cancro?

Alguma coisa se vai fazendo, nomeadamente no campo da justiça. Nos últimos anos, deu-se um passo significativo, mas continuamos a encontrar exemplos de corrupção que se estendem a vários campos, como os negócios e o desporto. É um fenómeno cultural. Temos de lutar por uma cultura da honestidade e da transparência, não só na política mas nos vários campos da vida social. Cria-se um ambiente de pressão sobre aqueles que querem levar uma vida honesta. Sentem- se impotentes e, muitas vezes, até descartados, postos de parte, por não colaborarem no sistema da corrupção. Esta é uma das urgências da sociedade, à qual devemos dedicar uma atenção especial, a começar pela educação, a educação familiar e nas escolas mas também dentro da Igreja.

Como vê o crescimento de fenómenos extremistas e de populismo?

Estamos a assistir a uma perda de credibilidade da democracia e da solidariedade. São muitos os factores que levam a isto. A globalização traz coisas muitas positivas, mas acarreta também o risco de levar a perdas de identidades locais. E as pessoas reagem. Isto é explorado, suscitando o medo e a desconfiança face ao estrangeiro que chega, criando receios que, muitas vezes, são irracionais. Diz-se, por exemplo, que vêm tirar os empregos, quando as pessoas desses países não querem esses empregos. Isso depois provoca desilusões e fenómenos de corru

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