Entrevista

Fernando Amaral: "Leiria pode ‘gabar-se’ de ter a mais antiga software house de Portugal"

9 abr 2021 20:50

O presidente do Grupo Sendys defende que “os empresários têm uma dívida para com as suas terras”. E lamenta que não haja uma política consistente de investimentos para o interior

"As empresas visam o lucro. Mas também têm de ter outros valores que são extremamente importantes"
DR
Raquel de Sousa Silva

Apesar da pandemia, ou devido a ela, o Grupo Sendys cresceu 5,5% no ano passado. Esperava este resultado?
Está dentro da expectativa que tínhamos para 2020. A pandemia deu logo para ver como é que as coisas iam desenrolar-se. Tivemos um incremento interessante em Março/Abril, porque quando as pessoas foram [trabalhar] para casa tiveram de reformular os seus sistemas. Em termos de encomendas em carteira, tínhamos uma situação que considero invejável, e que se verifica também em 2021. Temos o ano feito. A crise, a ter impacto para nós, será com um delay de ano e meio, porque temos entregas para fazer. 2021 está também a correr dentro das expectativas. A haver problemas, será em 2022.

 

A Alidata, software house de Leiria, foi a responsável pela maior fatia do volume de negócios de 9,9 milhões de euros que o grupo conseguiu em 2020 . Qual a mais valia desta empresa no seio do grupo?
A Alidata é muito importante para nós. Desde logo, tem um software que é único em Portugal, pelas especificidades que tem. O Sendys Explorer tinha como nome original Aliprint, mas tivemos alguns problemas no Médio Oriente devido ao prefixo Ali. Foi-nos pedido para criar um nome diferente. A Alidata tem um impacto importante nas contas gerais do grupo. Este produto, feito a partir de Leiria, foi implementado em 97 países no ano passado. Leiria pode ‘gabar-se’ de ter a mais antiga software house de Portugal, que é precisamente a Alidata. Todos os produtos que comercializamos são desenvolvidos indoor. Somos uma fábrica de software. A Alidata desenvolve software e não tem intermediários para ir aos seus clientes.

 

O Sendys assume-se como um grupo global, com presença em vários países, mas tem sede no concelho da Sertã. Porquê?
Costumo dizer que não é no concelho da Sertã, é em Cernache do Bonjardim. É o sítio onde nasci. Sendo um homem do interior, não esqueço nunca as minhas raízes. Os empresários e as pessoas que têm a possibilidade de tomar decisões têm uma dívida para com as suas terras. Há um grande desnível entre o litoral e o interior. Eu tenho esta demanda que é chamar a atenção das pessoas. Durante estes anos fez-se uma série de investimentos no interior, nomeadamente em auto-estradas, mas depois descobriu-se que estas eram apenas uma forma mais rápida de chegar ao litoral. Não há um real investimento no interior. Isto é uma questão política. Há que chamar a atenção das pessoas para o facto de ser possível ter empresas com sede no interior. Sem esquecer nunca o ADN de cada empresa. No caso da Alidata, é uma empresa de Leiria, com pessoas de Leiria, procura recursos em Leiria, tem um volume de negócios muito importante no concelho.

 

O interior tem sido esquecido pelos governos?
Completamente. Por altura dos incêndios na zona do Pinhal, tive oportunidade de dizer ao primeiro-ministro que aquela zona vive dentro de uma caixa de fósforos. E os políticos só se lembram do interior quando a caixa de fósforos arde. Não é a ajudar no incêndio de Pedrogão com uns subsídios – que depois se vem a descobrir que foram distribuídos de forma um um bocadinho duvidosa – que se vão mudar as coisas. Quando eu tinha uns 18 anos fiz um trabalho para o Centro de Saúde da Sertã que consistiu em registar informaticamente todos os utentes. Eram 23 mil pessoas, em 1987. Hoje a Sertã tem 15 mil pessoas. Morrem sensivelmente 700 pessoas por ano e nascem 200. Esta é a realidade. Quando temos uma empresa mas não há pessoas para comprar os seus produtos, os negócios não podem flores

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