No dia 26 de Fevereiro, vai chegar Hermitage,um novo álbum de Moonspell. Como foi o processo criativo?
Tenho de explicar o contexto que levou a este álbum. Em 2015, gravámos o disco Extinct, em inglês, na Suécia, e a digressão correu muito bem. Entretanto, fizemos uma pausa na nossa linha musical em 2017, para gravar o 1755, um álbum, em português, sobre o terramoto de Lisboa. Acreditávamos que iríamos fazer umas apresentações em Portugal e que o Brasil e alguns países da América Latina iriam aderir bem, mas tivemos uma adesão maior do que esperávamos ao projecto e à História de Portugal, e a digressão alongou-se. A última parte foi decisiva porque foi a "melhor pior tourné" que fizemos. Foi a melhor porque teve muita gente nos concertos e a pior porque passámos por aventuras e histórias que já não estava à espera de encontrar aos 46 anos. Estivemos parados oito horas na fronteira turca, vimos campos de refugiados e sentimos uma certa desintegração da Europa. Sou músico de rock, mas afirmo-me como ser pensante e não consigo passar por aquelas coisas sem deixar de as sentir.
Ser-se músico tem essa parte de mensageiro para o que não está bem no mundo.
Deveria ter essa parte, porém, há uma cada vez maior resistência a isso, até por parte do público. Generalizando um pouco, sinto que voltámos a uma relação quase medieval com os músicos e com os artistas em geral. Há uma espécie de regresso ao tempo dos jograis e dos bobos da Corte... a respeitabilidade dos artistas está em crise, porque a Cultura, em tempos de fome, guerra ou pandemia, senta-se no banco de trás. É um erro, mas é uma reacção natural das pessoas, que se preocupam mais em ir ao supermercado do que em ir ao teatro. O que me parece, também, é que no público há quem, como investe alguma coisa na cultura e como pode usufruir dela quase de borla, se sinta "cliente da Cultura" e não "amante da Cultura". Em 2020, no heavy metal, testemunhámos as primeiras queixas à Deco, porque as pessoas estão encrespadas contra tudo e contra todos. Para responder à pergunta, sim, os músicos deveriam ser como diz, mas não, as pessoas não querem que os músicos o façam, principalmente, no estilo em que tocamos. Sempre que há qualquer coisa ligada à política e sociedade, que é o caso do nosso próximo álbum, que não é sobre vampiros ou lobisomens - com todo o respeito que tenho por esse folclore - dizem que preferem um registo de fantasia porque estão "fartos do mundo". Como compositor, tenho uma perspectiva diferente. Lançámos The Greater Good - o bem maior -, o primeiro single do próximo disco, que levanta muitas questões e é uma canção de paz que questiona se isto não é a oportunidade para mudar a maneira de pensar nas coisas. Começámos a trabalhar nele antes da pandemia e é um disco diferente, mais progressivo, influenciado por bandas como Pink Floyd, numa mistura de heavy metal com psicadelismo. Esse primeiro single foi lançado com um vídeo com as letras e foi bem e mal recebido. Houve uma divisão das águas, porque diz que o "bem maior não é bom o suficiente para toda a gente". A Covid-19 veio destapar a fragilidade da sociedade. Não houve falta de avisos e de sinais de que a dinâmica do mundo, do mundo empresarial, do capitalismo selvagem, estava a prejudicar o equilíbrio não apenas da natureza, mas da própria sociedade. Quando comecei a escrever este álbum em 2017, não previa vírus algum. Agora sei que será lido à luz da Covid. O videoclipe de The Greater Good é o contraste entre o avanço dos países do Ocidente, onde podemos dar-nos ao luxo de decidir se comemos produtos que não maltratam os animais, com o resto do mundo, onde as pessoas não podem fazer a escolha de uma dieta ou sequer uma escolha política. O nosso álbum é também sobre eremitas. Chama-se Hermitage – Ermitério - e é sobre fazer uma pausa. Pesquisei a vida dos eremitas e é fascinante. Muitos dos eremitas, por exemplo Zoroastro, referido por Nietzsche, e que fundou a primeira religião monoteísta, vieram dos seus retiros para trazerem "a luz" às suas sociedades. Mas há ermitas modernos, como os hikikomori, do Japão, que moram nos quartos, em casa dos pais. Não saem, não aguentam a pressão de uma sociedade onde se trabalha até à morte. Por cá, ainda não chegou essa pressão, embora, ainda hoje de manhã, o meu filho, que tem oito anos, me tenha perguntado por que razão tinha de passar oito horas na escola. Eu também não entendo. Ele poderia ficar lá quatro e teria, provavelmente, o mesmo desenvolvimento e aprenderia a mesma matéria. Por mais que as pessoas barafustem, é importante mostrar, cada vez mais, a consciência social dos músicos, de uma forma organizada e equilibrada, fazendo mais perguntas do que dando respostas, porque fartos de opiniões estamos todos.
Em Maio, chegará às livrarias o seu primeiro romance. O ano de 2020 foi produtivo.
Faz agora um ano que recebi um telefonema da editora Penguin Random House, que procurava novas pessoas para a literatura. Há muito que eu tinha a ideia de escrever um romance. Já escrevi poesia e contos e, a nível de trabalho mais consistente, tenho as letras dos Moonspell, mas nunca tinha abraçado um projecto como este. Foi uma benção. Havia o plano de o escrever em 2020, mas, tal como na música, pouca coisa acontecia na literatura. Neste momento, estou a reler e a acabá-lo. É um romance sobre a Bandroa, nos anos 70, onde cresci. Foi considerado o bairro mais clandestino da Europa... aquilo começa nos anos 70, quando a zona era uma quinta e as pessoas começaram a construir lá e a vender lotes, sem escritura, sem nada. Até ao ponto de os prédios nem sequer terem coisas básicas como o saneamento e já haver escolas. A personagem chama-se Rogério Paulo e é e não é biográfica. Não me preocupei com essas convenções. Peguei num realismo mágico dos subúrbios - que nada tem que ver com Gabriel García Márquez - e naqueles "cromos" que existem em todos os bairros; pessoas banais que encerram em si magia. Uma noiva abandonada no altar e que, para o resto da vida, andou vestida de branco e que se suicidou, atirando-se de um quarto andar, uma prostituta que é acolhida por um senhor com filhos, mas a quem acaba por trair, sendo abandonada. São histórias que se contam no relato de uma guerra, onde até há tanques, entre o bairro pobre e o bairro rico que é, entretanto, construído. É um conto de gentrificação, numa narrativa "heavy metal", com um ritmo muito incisivo, com muitas facadinhas, muito inspirada em Lobo Antunes, escritor de quem gosto [LER_MAISmuito. Isto teve ainda outro efeito benéfico que foi viver num mundo dentro da minha cabeça. Nestes momentos, há muita pressão da sociedade e dos fãs... e vejo músicos a desistir, a fazer um trabalho mais descuidado, até há a pressão nas redes sociais, que deixei de ter. Se quiser dar cabo do meu ego, basta ir às redes sociais. Não podemos esquecer que não somos nós que estamos mal, quem vai dizer mal nas caixas de comentários é que está. Acredito que, em 2019 e 2020, houve tantos suicídios de músicos por causa dessa pedra de moinho que vai passando sobre nós, todos os dias. Há pessoas que não aguentam.
Como foi subir ao palco em 2020?
Dei quatro concertos e o facto de estarmos sem máscara e o público estar com elas mostra muita dedicação aos artistas. Fizemos um concerto em streaming e correu bem. É um formato estranho para o heavy metal, que não convive bem com a distância física e social, nem com a forma como se frui a música. Embora não seja um meio que nos agrade muito, estamos a equacionar usá-lo outra vez. Sabemos que há muita gente, muitos fãs internacionais, que não podem vir a Portugal. Este concerto, embora os fãs tenham pagado um valor simbólico, foi uma maneira de desenferrujarmos, de ficarmos no radar. Se me perguntarem se gosto de tocar em streaming? Eu gosto de estar no palco. Para nós, foi quase a mesma coisa, até porque havia algum público, já que não fizemos o streaming sem ninguém na audiência. Acredito que 2021 será um ano bom para pensarmos menos em nós mesmos. Não gosto de streaming? Está bem, mas isto não gira à minha volta. Uma pessoa que esteja na Austrália e que teve de se levantar às 6 horas da manhã para ver o concerto, ou no Japão, vai gostar... as opiniões cada vez interessam menos. Todos as temos, sobre isto ou aquilo, e temos tanta opinião que acabamos por não querer a vacina anti-Covid. Temos de nos orientar, se não o fizermos, depois da Covid, virá outra coisa. Estou mais certo de que se irá repetir uma série de erros do que se escutarão as vozes da ciência. Qual é o argumento científico, histórico ou social que seja mais forte do que a história da erradicação de doenças através de vacinas? Tenho amigos que torcem o nariz a esta vacina, porque "apareceu muito depressa" e porque é "muito cedo". Fumam, bebem e agora estão com medo que lhes cresça um terceiro olho ou que lhes apareça mais um mamilo?
O papel do músico é questionar
Nasceu em 1974, na Brandoa, bairro da Amadora, num dia de peripécias, onde a mãe chegou à maternidade, na Estefânia, numa carrinha do pão. Amante das letras e ávido consumidor de livros, desde pequeno.
Fernando Ribeiro estudou Filosofia e aplicou os conhecimentos na escrita de letras musicais onde faz perguntas sobre o papel do ser humano, sobre a justiça, a igualdade, a consciência e os desafios que se colocam à Humanidade. Em 1989, formou os Morbid God, que mais tarde, em 1992, mudaram o nome para Moonspell, apontada como a mais internacional das bandas portuguesas, conhecida em todo o mundo, na área alternativa e do metal.
É autor de livros de poesia - Como Escavar um Abismo (2001), As Feridas Essenciais (2004), e o Diálogo de Vultos (2007) -, de prosa - Senhora Vingança (2011), participou em compilações de contos no projecto A Sombra Sobre Lisboa - Contos Lovecraftianos na cidade das sete colinas e escreveu artigos para a revista de metal portuguesa LOUD!
É também cronista no JORNAL DE LEIRIA.
Musicalmente, foi um dos fundadores do projecto Daemonarch, fez parte do projecto Amália Hoje, que juntamente com Sónia Tavares, Nuno Gonçalves e Paulo Praça regrava alguns clássicos de Amália Rodrigues, colaborou com Bizarra Locomotiva e no projecto Orfeu Rebelde.
Vive em Alcobaça, onde se fixou após casar com Sónia Tavares, vocalista dos The Gift.
O tempo extra que o ano de 2020 nos trouxe, serviu para reflectirmos e nos melhorarmos? Ou esbanjámos tudo com jogos de vídeo, a ver séries e a discutir nas redes sociais?
Além das aulas de Cidadania, deveria haver aulas para sabermos o que fazer com o tempo. Elas existem, mas estão no banco de trás, no banco dos palermas, como dizíamos na Brandoa, e chama-se Filosofia. Neste momento, podemos ter à frente algo que sabemos ser fake news e não o conseguimos desmontar. Não podemos perder o foco do nosso último reduto e o nosso último reduto é sermos seres pensantes. Só não o somos se não quisermos. Pegando nas teorias da conspiração, aquela famosa do Pizzagate, quando foi desmantelada, os teóricos dessa conspiração nem sequer fizeram mea culpa. O jogo está viciado. Antigamente, a evolução do pensamento filosófico, melhorava o que estava para trás, ao negar o pensamento errado. O próprio pensamento científico faz o mesmo e percebo por que razão a comunidade científica esteja tão irritada com o "povão". É errado debatermos virologia com um virologista. O que nos dá o direito à revolta ao pensarmos que um virologista nos está a minimizar? Somos minimizados todos os dias pela internet, redes sociais, pelo ódio, pelos nossos patrões... Depois, quando vamos à luta, não queremos isso para nós. Há um certo narcisismo, um certo esticar. Faz falta um debate filosófico e sociológico sobre este problema. Isto é como os fogos florestais em Portugal. Se são em mato seco, é deixar arder, mas não limpamos o nosso quintal. Eu disse na revista Metal Hammer Portugal que há que combater o racismo a partir dos palcos, porque há muito racismo no heavy metal. Há muita mitologia nórdica, há muito blood and soil, há muita coisa que não pode ser campo fértil para expressões artísticas e isto não é uma questão de liberdade de expressão. Queremos essa liberdade, mas não queremos a responsabilidade. Custa-me muito meter a Humanidade inteligente nesta posição de que somos todos umas vítimas da desinformação. Podemos ser, mas também podemos não ser. O último reduto é pensarmos. Podemos aprender com tudo: com os jogos de vídeo, com as séries, com a internet, mas não podemos ficar fixados apenas ao que está mal. Por que razão, quando vemos um lindo sorriso, com dentes perfeitos, olhamos para apontar apenas o dente podre? Quando se manifesta uma opinião fundamentada, há um "cancelamento" de opinião, feito por pessoas que não sabem nada. Vamos entregar o mundo a essas pessoas? É o que temos feito com vários cargos políticos que temos elegido, muitas vezes, com a nossa ausência da vida democrática. Nas próximas eleições Presidenciais prevê-se uma abstenção brutal.
Afinal, os músicos portugueses não entram nos mercados internacionais porque "cantam inglês de liceu", como disse, recentemente, Tozé Brito? Está descoberta a razão?
Em vez de criticar o que o Tozé Brito disse, eu dar-lhe-ia uma sugestão: vá estudar os chamados "nichos de mercado" e ler o livro de Malcom Gladwell onde ele dá dois exemplos de como as coisas se tornam virais. Um são as sapatilhas Airwalk e outro são os Hush Puppies. A segunda empresa estava praticamente na falência e por acção de algumas pessoas, a quem chamaríamos hoje de influencers, tornou-se numa marca multimilonária e o mesmo com a Airwalk, que chegou a ser a maior terceira empresa de calçado desportivo do mundo. Isto acontece de uma maneira que o Tozé Brito não percebe. Não é preciso ter sempre um grande orçamento, não é preciso ter um inglês brutal. Hoje, na indústria musical todos teríamos a beneficiar se o Tozé e outros da velha guarda estudassem e tivessem essa noção. No nosso caso, pegámos num produto que todos, até os meus pais, diziam que não era comercializável - "tu estás é maluco, ainda se fosse uma banda de baile ou de covers!" - e, com paciência, inteligência e alguma sorte, conseguimos chegar lá. Nunca tive o dinheiro que o Tozé Brito teve, nunca tive os orçamentos que as bandas que ele descobriu e ajudou tiveram, mas a chegar aos 30 anos de carreira temos uma posição boa na cena do metal mundial. Não há factor algum que impeça o Tozé Brito ou outras pessoas, especialmente nesta era da internet, de descobrir o que as bandas portuguesas fazem lá fora e não apenas os Moonspell. Conheço bem o caso dos The Gift e penso que até foram referidos por ele - com inglês de liceu ou não, a minha mulher tem um sotaque muito melhor do que o meu -, e eles trabalharam com o Brian Eno, estiveram na Union Chapel... há imensas bandas de punk e metal que têm as suas digressões e fãs. Podemos ir à internet e dar mil exemplos. Sinceramente, uma pessoa que ainda quer ter uma opinião na cena musical tem de ter melhores argumentos. Ele fala muito do fado... Eu adoro fado, mas o fado não define Portugal. Portugal também pode ser rock'n'roll. Por que não? Também podemos arriscar e ser como Espanha, onde a música anglo-saxónica não fura. Há dias estive, em trabalho, com um dos directores da Warner, porque queremos crescer em Espanha com os Moonspell, neste mercado que está aqui ao lado, e ele disse-me que todas as decisões são tomadas na América Latina. Há ali uma espécie de "retro-colonização" nas decisões que são tomadas no mercado espanhol da música. É esse o modelo que queremos cá? É esse o cenário que as pessoas que ouvem e compram música e vão aos concertos querem? Penso que não. Em todo o caso, essa discussão é uma treta.
Porquê?
Neste momento, 90% das bandas nacionais cantam em português. Até os Moonspell já cantaram em português! Um executivo reformado da música deve entender que o mercado tem várias dinâmicas e que nele também nascem nichos. Acontece que o nosso "nicho de mercado" permite-nos vender mais cópias em Portugal, em pré-venda, do que a Cuca Roseta desde que lançou o disco de tributo à Amália. Já não é muito claro quem é que chega a mais pessoas. Quem viveu nos anos 70 e 80, no tempo das vacas gordas, com grandes orçamentos, passou ao lado de tornar o mercado mais preparado para as crises. Quem chegou nos anos 90, com o espírito do it yourself,como os Moonspell, os The Gift, como tantas bandas de Leiria... Ele nem conhece esse epifenómeno que são as bandas de Leiria, da Omnichord e da Rastilho! Aliás, a Rastilho, que é do Pedro, o meu sócio, teve um dos discos portugueses mais vendidos de 2020, dos Mão Morta. Parece-me que essas pessoas não perceberam nada do que se passou e andam a correr contra o prejuízo. Aquele paradigma de gastar rios de dinheiro para chegar a muita gente acabou. O que precisamos agora é de novas vozes e de novas estratégias na música portuguesa. Elas estão a aparecer em força, porque quem anima os mercados, além da Universal e da Sony, são as editoras independentes. Dizem que não vendem tanto... calma! Vamos ver os números que isso já não é assim tão evidente. Estamos a falar de editoras que fazem festivais, vão de porta-a-porta, têm distribuições de catálogo. Por exemplo, as nossas vendas aumentaram 50% e porquê? Porque há uns anos preparámos tudo para fazer venda postal e agora vemos as multinacionais a tentar fazê-lo também.
O ano de 2020 deve ter sido dos anos onde mais se falou de cultura, das dificuldades de quem vive dela, do seu consumo. Acredita que 0,6% do Orçamento do Estado é suficiente para apoiar o sector?
Não é suficiente. Sei que houve um esforço do Ministério da Cultura para dotar a cultura com algum dinheiro extra, mas, para já, o orçamento da cultura deveria ser, pelos menos, metade daquilo que a indústria cultural contribui para o PIB, que são mais de 3%. Depois, a distribuição de fundos é falaciosa. Vemos cidades como Leiria, que tem uma dinâmica cultural forte a receber muito pouco, quando mais de metade dos subsídios são entregues a instituições culturais de Lisboa e Porto. Há ainda uma fatia gigantesca que vai directamente para a RTP. O Orçamento deveria subir para, pelo menos 1,5 %. E dever-se-ia rever a distribuição. Não pela meritocracia, porque em Portugal isso é sempre discutível... deveria ser como para a entrada na Universidade, com base nas boas notas a partir de projectos públicos ou que tivessem alguma coisa que os destacasse. Praticamente todos os Governos deixaram tudo na mesma. É tudo muito sul europeu: manda-se dinheiro para cima. A uns muito e a outros pouco e depois não se regula nada. Conheci muita gente do teatro, de Lisboa, que a primeira coisa que fazia, quando recebia apoios, era dar a si mesmo um bom ordenado e depois é que fazia umas produções com duas ou três coisas com papel de cenário. Espero que um dia o Ministério da Cultura olhe para países e cidades que, através da aposta na rede cultural, se conseguiram dinamizar. A cultura é um equilibrador das sociedades, dos políticos e dos cidadãos. Os Governos não costumam olhar para o aspecto humanizante da cultura, apenas vêem números. Se o Estado trata assim a cultura e não a recompensa devidamente, qual é o exemplo que passa aos cidadãos?