Sociedade

Gui Garrido: “A cultura não tem de servir uma política no sentido partidário, tem de servir uma política de estratégia de cultura”

27 jul 2019 00:00

Entrevista | O director artístico do Festival A Porta diz que em Leiria é necessário caminhar para uma programação cuidada. E lembra que cultura e entretenimento têm objectivos diferentes

Já são cinco edições: sentem-se preparados para surpreender o público com propostas inesperadas?
Claro, há muitos sonhos que ainda não foram concretizados, que ainda vêm da primeira edição. É engraça-do o quanto as pessoas querem ser constantemente surpreendidas. Nem sempre tem de ser assim, os projectos vão sendo mutáveis e vão-se afinando e vão percebendo se são mais de um carácter celebratório, se são mais de um carácter de entretenimento, se têm mais a ver com um serviço educativo. Ao longo dos anos, o Festival é multidisciplinar e complexo na sua programação e comunicação, mas tem bastante ciente por onde gostaria de mover-se e as manifestações artísticas que gostaria de proporcionar. A fórmula não está fechada. Nós temos vindo sempre a abrir outras portas, temos vindo sempre a desenvolver outros projectos, mesmo dentro dos próprios espaços. 

Mais do que crescer ou mudar, melhorar. 
Sim, tem sempre a ver com o qualitativo. Com cada vez termos mais noção do que é necessário para o usufruto. E muitas vezes tem a ver com mais sinalética, mais ilhas ecológicas, conseguir trazer propostas diferenciadoras, porque isso é algo em que sem dúvida assentamos. Queremos ir desenvolvendo novos projectos e criando novas parcerias, permitir que a banda X com o artista Y possa estar cá em residência e criar um projecto único. Não ir pelo caminho mais fácil, que muitas vezes é o mais barato ou o mais rápido. Esse melhorar permite-nos sonhar de outra forma. O Festival não ambiciona ser um Festival de 60 mil pessoas com concertos num palco que precisa de ter 30 metros de largura. Não é essa a característica aqui. A característica assenta sempre sobre os pilares da comunidade. 

Leia aqui a primeira parte desta entrevista:  "Através da arte e da cultura podemos tratar problemas como a exclusão social"

Também nos festivais, as pessoas procuram tempo de qualidade. Isso é compatível com o alinhamento tão extenso como o que A Porta proporciona?
Óbvio que é bastante extenso, dá bastantes opções de escolha. As pessoas podem decidir se querem ir só ao Jardim, se querem ir só à Casa Plástica, se querem ir só ao workshop do Gonçalo M. Tavares na Arquivo. O projecto, o que quer fazer, é mostrar o seu mundo possível, em relação com as pessoas que o habitam durante dez dias. Claro que tem bastantes estímulos a acontecer, acontecem muitas coisas em simultâneo, mas ele tem as suas linhas programáticas. Há um misto. Consegues encontrar calma no meio desta efervescência e é bonito quando consegues encontrar, no meio da calma, um momento que te estimule e te potencie para outra coisa. Temos a noção que a nível de estímulos são bastantes aqueles que tentamos, mas a complexidade do projecto é mesmo essa apresentação de uma série de manifestações artísticas que vão do bebé até à força sénior, extremamente eclécticas, a todos os níveis. 

Pensando no conjunto da cidade, nos vários eventos que ocupam o centro histórico, ao longo do ano, é preciso definir uma linha e começar a tratar separadamente a cultura e o entretenimento? 
São duas linhas completamente distintas. Cultura é uma coisa, entretenimento é outra, e muitas vezes as duas cruzam-se, o que não tem mal nenhum. Cada um de nós leva as suas vidas e nem toda a gente tem de, após oito horas de trabalho, ir sofrer a ver um filme. É bom que de vez em quando possa ir ver um filme que é também cultura mas possa entreter e dar forças

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