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Como é que correu este Verão, em que regressou em forma à estrada?
Tem sido um processo muito curioso. Eu fiz a minha vida e formei-me como artista na estrada. Fui dos primeiros a começar - antes disso só a Florbela [Queiroz] e o Norberto de Sousa - a seguir ao 25 de Abril. Um dia recebo uma carta de um senhor do Porto, Cipriano Costa, que era agente, a perguntar se eu e o Nicolau [Breyner], na sequência do êxito que tínhamos feito na TV com o Sr. Feliz e o Sr. Contente, queríamos fazer espectáculos na província. E eu pensei: que disparate! Era o que faltava…mas por descargo de consciência decidimos perguntar ao homem quanto é que ele pagava. E o cachet que ele propunha correspondia, por espectáculo, a um mês de trabalho para o Nicolau. E no meu caso correspondia a dois meses…
E isso pesou…
Sim, porque aí percebemos imediatamente que estávamos muito enganados em relação à indústria dos ditos espectáculos de província. Que já na altura era dinâmica.
Foi onde esse primeiro espectáculo?
Já não me recordo. Mas foi assim que começámos esta arte própria: ter a capacidade de, em menos de duas horas, cativar milhares de pessoas sem que elas se vão embora; interessá-las e ainda chamar mais público… é alta competição. Sobretudo para um humorista.
Porquê?
Porque para um cantor é diferente: ele canta, as pessoas batem palmas, há êxitos conhecidos, agora para quem faz humor é muito complicado.
E para quem faz as duas coisas, como é o seu caso, é igualmente difícil?
É. É alta competição. Na altura não começámos muito bem. Depois eu comecei a fazer sozinho, a reboque de um êxito que era o “sacarrolhas”, depois tenho a minha consagração com a canção do ‘beijinho’, que foi um grande êxito – e aí apanhei o comboio definitivo da primeira classe. Passei a ser a chamada ‘atracção de primeira’. E construí a minha vida toda na estrada. Quando digo a minha vida estou a incluir tudo, a minha casa até.
Nessa altura a televisão ainda não tinha, para si, a importância que veio a ter…
Nessa altura a televisão contava só como instrumento promocional. Pagava pessimamente.
Mas isso alterou-se entretanto, com a TV privada.
Sim, quando isso acontece, nos anos 90, houve uma alteração de mercado. Foi quando o José Eduardo Moniz me veio perguntar quanto é que eu ganhava por ano, com os espectáculos. Disse-me logo que passava a pagarme o mesmo para eu fazer só televisão. Esse foi o momento de corruptela, em que passei a ganhar não aquilo que a televisão de um pequeno país podia pagar, mas sim pela minha própria tabela. O facto de me afastar dos palcos da província foi gravíssimo. Com o tempo começamos a trabalhar dentro de uma redoma, a perder esta prática de estar com as pessoas, e sobretudo a arte de ir testando e fazendo o material ao vivo.
E isso durou quantos anos, esse afastamento?
Até 2007 ou 2008. Faz pouco mais de 10 anos. Quando finalmente voltei à estrada, não foi um regresso fácil. Tive que aprender uma nova forma de conquistar públicos.
Teve que se reinventar?
Foi isso. Mas com uma vantagem: um passado maravilhoso de repertório, que hoje em dia está mais vivo que nunca. Não percebo como é que crianças de oito anos – ainda no outro dia filmei isso – sabem a letra toda de uma música que é de 1982. Os miúdos sabem todos a letra do Serafim Saudade, por exemplo.
E isso dá-lhe uma responsabilidade maior, perante o público?
Dá-me sobretudo uma alegria muito grande. E saber que tantos anos de luta não foram em vão e muitas coisas foram ficando.
Mas quando regressa à estrada, no final da primeira década de 2000, é mais por opção ou mais por necessidade?
Isso é engraçado porque eu penso sempre no Quim Barreiros – que deve ser o artista mais rico de todos nós. É o que mais trabalha, e tem 72 anos. Já que a televisão tinha perdido a sua força, continuar a vida artística através dos palcos de província é uma maneira da pessoa se manter viva. Não lhe vou dizer que a parte económica não é importante. Mas no meu caso não era essencial. Podia perfeitamente tornar-me num ilustre reformado e aparecer de vez em quando para fazer uma gracinha. Mas eu não sou feito dessa massa. Sou da massa do Quim Barreiros, do José Cid ou do Malhoa, que precisam de palco para estarem vivos.
O Herman descobriu cedo a importância de chegar ao público através do Instagram, a rede social onde mais interage com o público…
Acho que não descobri cedo. E foi por acaso que descobri! Foi coincidência, passou a ser um passatempo meu.
A ideia que fica é que se diverte imenso com as publicações, é isso?
É. Agora antes da entrevista estava a fazer um ovo estrelado, que canta o ‘amanhã faço dieta’. Mas é uma coisa muito pessoal, muito infantil e muito minha, que se tornou numa arma profissional indescritível. Eu tenho um sexto ou um quinto dos seguidores das Cristinas Ferreiras e dessa gente toda, mas a implantação é infinitamente maior. Sobretudo tendo em conta os seguidores que eu tenho.
É uma forma de chegar também a esse público mais jovem, que acaba por saber de cor as suas canções antigas?
Também, sim. Tornou-se um instrumento fortíssimo e até percebo porquê: veio substituir aquela lógica de que havia uma televisão e um canal para toda a gente, e as pessoas concentravam- se à volta de um objecto. Agora o objecto passou a ser o telemóvel. Além disso eu tenho feito uma coisa que se calhar é corajosa, mas que vale a pena: ter resistido às publicidades. A publicidade perverte.
É por isso que foi sempre muito selectivo na publicidade a que deu a cara?
Sim, muito. Só abro excepções quando faço campanhas muito grandes e aí falo nelas nas redes sociais. Mas está-me a custar um bocadinho…porque as verbas envolvidas são incríveis. Há artistas que neste momento pagam as contas com o que ganham do Instagram.
Podemos dizer que está num bom momento, enquanto artista?
Estou. Eu próprio acho que estou a melhorar muito. E o espectáculo que tenho com a orquestra, por exemplo, é tão completo e tão feliz que eu próprio tenho orgulho em fazê-lo.
É mais feliz em cima do palco ou num estúdio de televisão?
O estúdio não traz nenhuma felicidade
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