Entrevista

José Manuel Mendonça: "Para sermos mais ricos e mais desenvolvidos temos de exportar produtos sofisticados"

18 dez 2021 12:45

José Manuel Mendonça, presidente do Inesc Tec, fala da importância de transformar o potencial científico e de conhecimento em valor económico

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DR
Raquel de Sousa Silva

Quais são as megatendências e políticas públicas para a ciência e a inovação na indústria?
As megatendências aplicam-se aos grandes desafios da sociedade e à forma como a tecnologia lhes tenta responder. São, hoje em dia, a transição digital, a transição ecológica, a energia e a água, as grandes metrópoles urbanas. Há um conjunto de megatendências no mundo e a resposta a elas tem de ser feita através da tecnologia, da ciência, do conhecimento e da política pública. Em Portugal, a política pública de resposta a estas megatendências segue as grandes orientações europeias. A Europa decidiu, nomeadamente, que a transição ecológica e ambiental é um dos grandes desafios, tal como a transição digital. No primeiro caso, porque a Europa lidera as questões ambientais, mas na parte digital está atrasada, nomeadamente em relação aos Estados Unidos e a alguns países asiáticos.

Quais as consequências destas tendências na indústria?
Os produtos e serviços de base tecnológica baseados noutros produtos e sistemas que a indústria portuguesa desenvolve ou exporta têm de acompanhar estas tendências, nomeadamente em tudo o que diz respeito à economia circular, racionalização da energia e dos consumos de materiais, utilização de materiais reciclados. Por outro lado, os processos de fabrico e os produtos cada vez mais embebem tecnologias digitais. A indústria tem de seguir, e se possível antecipar, estas transformações. Um aspecto muito importante são os incentivos. Tanto a nível europeu como em Portugal, os incentivos de política pública têm dois níveis: o pau e a cenoura. O pau é a regulamentação, as exigências, as multas, as penalizações; a cenoura são os incentivos para modernização, para produzir menos CO2, para melhorar equipamentos produtivos.

Qual desses dois níveis tem sido mais usado em Portugal?
Têm sido ambos usados. Não temos grande razão de queixa de falta de incentivos financeiros e outros. Podemos queixar-nos é que esses incentivos financeiros estão rodeados de um colete burocrático e administrativo que faz com que muitas vezes as empresas sejam desencorajadas a utilizá-los, porque têm uma trabalheira enorme e os incentivos podem não cumprir o objectivo que tinham de partilhar o risco, porque as respostas demoram muito tempo, os projectos levam anos a serem avaliados e entretanto a inovação fugiu, as oportunidades goraram-se. Não é preciso mais, mas sim melhor apoio financeiro e melhores procedimentos por parte da máquina do Estado. As empresas poderiam utilizar mais frequentemengte e com mais eficácia estes incentivos de política pública se não estivessem rodeados de uma roupagem burocrática às vezes paranói

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