Entrevista

José Pacheco: “Os bons professores que temos estão a trabalhar de modo errado”

1 mai 2023 08:00

É o fundador da Escola da Ponte, que aposta num ensino fora da caixa, onde a relação entre aluno e professor se destaca. Projecto está a inspirar algumas escolas da região

Modelo da Escola da Ponte idealizado por José Pacheco está a ser seguido por algumas escolas em Leiria
Ricardo Graça

Defende escolas sem turmas, sem testes e sem um ensino planeado. É possível estender esse tipo de ensino a todo o País?
Quando alguém vai à Escola da Ponte, que foi a primeira no mundo a conseguir passar do centro do professor para o centro do aluno, costuma dizer: não tem prova, não tem director, não tem turma. Todas as escolas têm bons professores, mas raras são aquelas que conseguem garantir o direito à educação a todos. A Ponte tem a garantia do direito à educação a todos. Se é com ou sem turma, isso não interessa. Os professores devem tomar uma decisão ética, ou seja, se do modo como trabalham não conseguem ensinar todos, só têm dois caminhos: ou aprendem a ensinar todos, que é o que está na Constituição e na Lei de Bases, ou saiam da profissão. Quanto a ser extensível, é muito difícil, porque há muitos obstáculos à mudança. O primeiro é a cultura profissional. Os professores são instruídos para estar sozinhos numa sala, dando aula, e fazem-no muito bem. Se a competência dos professores é dar aula então tenho de valorizar essas competências, dar segurança à pessoa, cuidar dela, acreditar nela e elas depois tomam a decisão ética de mudar. Talvez, então, seja possível, dentro de 20 anos, o panorama educacional estar bem diferente. Cada vez que venho a Portugal vejo mais centros de explicações, mais doenças nos professores, mais abandono e suicídio juvenil. Isto não pode continuar. Este modelo é contraditório com a muito boa qualidade dos professores.

Mas os professores têm de cumprir um currículo extenso.
Não têm um currículo para dar. O currículo não é consumido, é produzido. Quando o professor tenta cumprir aquilo que a burocracia impõe, perde tempo, porque numa sala de aula, por melhor que seja o professor - e sei que são muito bons - não se consegue. Se perguntar a um adulto coisas do 4.º, 5.º, 8.º ano já se esqueceu. O professor é bom a dar aula, mas não consegue transmitir o conhecimento. O professor não ensina o que diz, transmite aquilo que é. Dar aula é uma coisa de século XVIII, século XIX.

Este conteúdo é exclusivo para assinantes

Sabia que pode ser assinante do JORNAL DE LEIRIA por 5 cêntimos por dia?

Não perca a oportunidade de ter nas suas mãos e sem restrições o retrato diário do que se passa em Leiria. Junte-se a nós e dê o seu apoio ao jornalismo de referência do Jornal de Leiria. Torne-se nosso assinante.

Já é assinante? Inicie aqui
ASSINE JÁ