Entrevista

Marta Baptista: “Devemos esperar que a disponibilidade de alimentos seja mais escassa e o seu preço seja muito mais alto”

3 jul 2025 08:00

A vice-presidente global do cultivo experimental e investigação da Driscoll’s, empresa líder na produção de pequenos frutos, alerta para os desafios da agricultura devido à alteração do clima e para a necessidade de procurar novas culturas e técnicas

Marta Baptista
DR
Jacinto Silva Duro

No que está, presentemente, a trabalhar com a sua equipa de investigação?

Há vários problemas que são comuns globalmente e o principal é a água, devido às alterações climáticas, à sua escassez e qualidade. Há menos água e de pior qualidade. E o segundo mais importante é a mão-de-obra e o seu custo. No cultivo dos pequenos frutos ou dos frutos vermelhos, muito do trabalho ainda é muito manual. Os frutos são muito perecíveis e delicados, e a colheita é toda manual. Isso tem um custo muito significativo para o produtor. É comum 50% a 80% do custo total de produção ser relacionado com a mão-de-obra. Em Portugal, não vemos muitas diferenças destes padrões. A água é o desafio número um. Por exemplo, na região do Perímetro de Rega do Mira, na região da Zambujeira do Mar, onde a Driscoll’s e muitas outras empresas cultivam pequenos frutos, nos últimos cinco anos, houve uma redução de quase 50% da quantidade por hectare da água alocada aos produtores pela instituição que gera o volume de água do Mira. Num curto espaço de tempo tivemos de trabalhar para sermos capazes de produzir o mesmo, com menos água. Estamos a consegui-lo, usando técnicas como a recirculação da água, captura da chuva e rega de precisão.

Qual é o projecto ou descoberta em particular que a deixou especialmente orgulhosa do seu trabalho?

Desenvolvemos um sistema de produção que, traduzido à letra, se chama “canas largas” de framboesa e de amora. Já existia na indústria, de maneira rudimentar, há talvez 18 anos, mas foi uma área onde trabalhei muito, com bastante persistência, e tenho muito orgulho que se tenha tornado num sistema de produção global com muito sucesso e que contribui muito para o sucesso dos produtores em muitos países. É um mecanismo de produção de muita precisão, com muita tecnologia e ciência, que permite poupar água e adubo e até recolher a água que a planta não usa, drená-la e limpar de maneira biológica, para ser reutilizada. O outro que destacaria, é o cultivo de mirtilo, em sistemas hidropónicos. Quando comecei a trabalhar neles, em Portugal, nem conseguia que me vendessem vasos ou substrato. Não existiam. As pessoas até me diziam que aquilo “não tinha jeito algum”. “Que disparate!” Hoje, é o sistema dominante no mundo, para toda a indústria e não só para o mirtilo. Acabámos de viver em Portugal a segunda ou terceira vaga de calor do ano, e estamos a assistir a temperaturas em Junho que, antes, só chegavam em Julho e Agosto. 

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