Entrevista

Pedro Nogueira: “A tendência crescente é haver cada vez mais mulheres nos escuteiros”

11 jul 2024 15:40

O chefe regional dos escuteiros da região de Leiria-Fátima recorda que o movimento incute valores aos jovens que não se deixam cativar por ódios, além de os ensinar a trabalhar em equipa, em prol de um mundo melhor

Pedro de Melo Nogueira
Fotografia: Nuno André Ferreira
Jacinto Silva Duro

Quase a chegar aos 100 anos de escutismo na Diocese de Leiria-Fátima, como está a saúde do movimento?

Está bem, continua a crescer, continuamos a ter um papel atractivo para os jovens porque ainda somos diferentes em relação a outras actividades e porque o escutismo é um movimento de educação integral. Não é específico de apenas uma actividade, mas ajuda a formar os jovens em todas as áreas de desenvolvimento seja o “físico, o intelectual, o carácter, o espiritual, o afectivo e o social. Ajudamo-los a crescer e a tornarem-se cidadãos activos nas suas comunidades ou no seu trabalho, que é o objectivo principal do escutismo. A visão do Corpo Nacional de Escutas (CNE) é pegar no jovem e nas crianças e fazer deles adultos prontos para serem cidadãos activos nas suas comunidades.

Que características tem o escutismo que outras actividades para jovens não têm?

Sobretudo, temos o contacto com a natureza. Temos a possibilidade de os jovens poderem errar e falhar. Na sociedade de hoje, cada vez mais, temos de ser perfeitinhos e não podemos falhar, mas, aqui os miúdos e miúdas podem errar, podem deitar abaixo as suas construções e voltar a fazê-las. Nós incentivamo-los a fazerem-no. Os projectos que vivem no seio do escutismo, são propostos por eles e não pelos adultos, e é com base nisto que os dirigentes, ao seu lado, os ajudam a construir novos empreendimentos. Nos outros movimentos, que têm os seus méritos, evidentemente, muitas vezes, é mais importante a vontade do adulto do que a do jovem. Isto não invalida que todos os movimentos e todas as actividades sejam importantes. O essencial é que os jovens estejam ocupados e construam coisas por si e para si.

Que impacto tem a ligação espiritual e religiosa do CNE à Igreja Católica?

Quando fundou o escutismo, Baden-Powell disse que a religião, fosse ela qual fosse, tinha de ser uma parte integrante do crescimento do jovem. Escuteiros [católicos, filiados ao CNE] ou escoteiros, devem todos ter uma confissão religiosa e professá-la. A religião é uma parte integrante da formação dos jovens e nós ajudamo-los a olhar para Deus ou para outro deus em que acreditem, e que isso faça parte da sua vida. Ajudamo-los a perceber que não estamos aqui por acaso, mas que existe uma entidade superior que nos ajuda a crescer e a evoluir. O escutismo vive independente da religião. É natural que as questões religiosas, sejam dos hindus, dos católicos ou muçulmanos, tenham uma influência nos valores dos escuteiros. Numa actividade internacional onde estão todas as religiões e escuteiros de todo o mundo, todos temos os mesmos valores, e todos procuramos o mesmo. São valores universais. Quando encontramos um escuteiro, seja em que parte do mundo for, ele tem os mesmos valores que nós, tem a mesma formação e procura o mesmo, que é o bem-estar da sociedade e o bem-estar de todos na comunidade, procurando fazer um mundo um pouco melhor. E isso é independente da religião de cada um.

O escutismo ensina-nos a aceitar todos. Não nos interessa a cor da pele e não nos interessa a religião
Pedro Nogueira

São os mais novos que pedem para aderir ou são os pais que os trazem?

Temos um bocadinho de tudo. Há dias, ouvi um caminheiro [escuteiro entre os 18 e os 22 anos], na sua cerimónia de partida - aos 22 anos são convidados a deixar os escuteiros, pois já são cidadãos adultos prontos para a vida activa -, dizer “vim para os escuteiros porque os meus pais me puseram cá, e fui ficando”. Muitas vezes, chegam-nos também por influência dos amigos, dos vizinhos ou de um primo, que já andam nos escuteiros e os desafiaram a ir também. Ou ainda porque um colega na escola começa a contar as aventuras que tem, o andar de mochila às costas ou fazer um raide. Tradicionalmente, os chefes de escuteiros eram pessoas que foram escuteiras, desde pequenas.

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