Entrevista

António Nunes: “Aos bombeiros deve ser entregue o combate”

21 jul 2022 10:55

O presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses defende um “verdadeiro simplex” no sistema de combate aos fogos florestais

António Nunes
Miguel A. Lopes/Agência Lusa

Há mais meios, mais dinheiro e um combate mais musculado, mas continuamos a assistir a incêndios de grandes dimensões. O que está a falhar?
Não sei se está a falhar alguma coisa. Temos três componentes que são importantes no âmbito dos incêndios florestais: as alterações climáticas, que estão severamente adversas, uma seca extrema e uma paisagem florestal que não está devidamente organizada, não tem faixas de contenção, nem caminhos libertos para se poder actuar. Com isto tudo, temos uma mistura explosiva. A estes factores podem-se acrescentar as causas humanas, que são ignições feitas de uma forma criminosa ou negligente. A floresta tem uma elevada carga de produção de energia e quando existem ventos mais fortes o incêndio tem espaço para se desenvolver com grande intensidade, quer do ponto de vista da emissão do calor quer do ponto de vista da extensão.

É necessário apostar mais na prevenção do que no combate?
Gostaria de concordar, mas não. Temos de preparar medidas preventivas, mas temos de continuar a apostar muito no combate. As medidas do combate são imediatas. O Governo, e bem, conseguiu neste período [de contingência] autorizar mais 100 equipas de bombeiros. As medidas de prevenção são estruturais, demoraram cinco, dez, 15 anos. Pelos vistos cinco não, porque passaram cinco anos sobre 2017 e continuamos a ter a floresta na mesma forma. Aliás, os incêndios da região centro mostram que pouco ou nada se fez na floresta. Temos de continuar a aumentar o investimento no combate e na prevenção. Há-de haver um momento em que a linha da prevenção se cruzará com a linha do combate e nessa altura começamos a decrescer o investimento no combate e a crescer exponencialmente o da prevenção.

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