Aposentou-se em Junho do ICNF. Como é que se sente alguém que chegou à Marinha Grande em 1978, e tem um percurso de 40 anos ligado às matas nacionais, quando vê a destruição provocada pelo incêndio de 15 de Outubro no Pinhal de Leiria?
Todos nós que conhecemos este espaço único ficamos chocados e desolados quando observamos o que aconteceu aqui no ano passado. Não é preciso sermos técnicos florestais. Todos nós temos de nos sentir incomodados e revoltados.
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Passou quase um ano. Fez-se o que era preciso fazer?
A dimensão dos danos é de tal maneira grande que num ano não era possível repará-los. Têm de ser reparados ao longos dos próximos decénios. Porque o pinheiro bravo é uma árvore, uma planta, que demora, no caso aqui da Mata Nacional, 70 a 80 anos a ser uma árvore adulta, ou seja, durante 70 a 80 anos o pinheiro está a crescer para depois ser cortado. E a recuperação dos danos causados pelo incêndio de 2017 demora ainda muito mais, porque desde 1 a 80 anos havia árvores de todas as idades. De repente, todo este equilíbrio, que permitia que todos os anos se realizassem cortes, que fornecessem ao mercado arvoredo de várias dimensões para várias utilizações, todo este equilíbrio que é construído através de uma gestão ao longo de séculos, de distribuição por classes de idade na Mata Nacional, acabou. Demorará 150 anos para que a Mata volte a ser como era.
Mas depois de um incêndio, há intervenções que são necessárias.
Em cerca de dois terços do que ardeu, portanto, 6 mil hectares, grosso modo, existe regeneração natural. Você tem milhões de pinheiros aí a nascer. Nestes dois terços só é necessário daqui a três ou quatro anos começar a fazer o chamado aproveitamento da regeneração natural. Ou seja, num hectare precisa de ter duas mil plantas que dão origem a um novo povoamento e neste momento tem lá 100 mil, portanto, é ir lá com um tractor e abrir faixas, até ficar com 2 mil pinheiros. A partir dos 15 a 20 anos de idade começam os desbastes, saindo 1.700 árvores ao longo do crescimento do pinheiro, em 5 a 6 cortes culturais. E passado 80 anos cortam-se as restantes 300 árvores, as melhores, porque foram sendo seleccionadas, para aproveitamento industrial de elevada qualidade.
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Mas há um terço onde a regeneração natural não vai ocorrer.
Nesse terço que também ardeu havia pinhal verde que não tinha semente, muito novo. O que lá está são matos, e algumas acácias. Aí é necessário fazer uma plantação ou sementeira, o que for mais ajustado. Aliás, começou-se já no inverno passado. É isso que é prioritário.
Há vários grupos de trabalho criados. Têm produzido ao ritmo que era desejável?
Não faço parte desses grupos de trabalho, não sei responder a essa pergunta. Agora, isto é muito simples. No Pinhal de Leiria, os solos são areias, portanto, são solos pobres, não permitem grande diversidade em termos de espécies florestais. Por isso é que se encontra o pinheiro bravo desde a foz do rio Minho à foz do Guadiana. Porque é a única espécie florestal que conseguia sobreviver num meio tão inóspito como este. Mas mesmo assim era necessário levar para esses areais o chamado rapão, matéria orgânica dos pinhais do interior. Convém de vez em quando quebrar esta monotonia do pinheiro bravo, só que não é fácil, pelo que a solução é haver pinhal de idades muito diferentes.
Quanto dinheiro é necessário nos próximos anos?
O aproveitamento da regeneração natural custa por hectare 700 a 800 euros. A arborização custa-lhe 1.000 e tantos euros por hectare. E depois há o controlo das invasoras lenhosas que ainda não se pegou nele. Já temos aqui na Mata algumas centenas de hectares de acácias. Onde há muita acácia, os pinheiros morrem. E portanto em vez de ter um talhão com pinheiros tem um talhão com acácias. E essa situação ainda ninguém a agarrou aqui na Mata Nacional, ainda ninguém a estudou. Até agora nada se fez.
E quanto ao investimento no Pinhal de Leiria?
Em primeiro lugar, tem de haver um plano de reabilitação e intervenção na área ardida. Esse plano tem de dizer o que é preciso fazer e em que anos. E tem de ter um suporte financeiro. É por aí que tem de se começar. Isto é básico. Sobre o sobreiro e outras espécies: o Pinhal de Leiria esteve aqui durante 700 anos. Agora vamos fazer o quê? São coisas tão fáceis de entender que não percebo como se perde tanto tempo. Nós, portugueses, gostamos muito de fazer relatórios, estudos, só que depois quando passamos à prática falhamos rotundamente. Tudo isto está mais do que feito e sabido.
Não há que inventar.
Penso que não. Há que melhorar e garantir o suporte financeiro. Não anda longe de 10 milhões de euros, pensando já também num plano para as invasoras lenhosas. Portanto, só é necessário afectar ano após ano 1 milhão de euros nos próximos 10 anos. Tão simples como is
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