Entrevista

José Alho: “Quando ambiente e ordenamento significarem economia, daremos um passo significativo

27 mar 2025 08:00

Vice-presidente para o Ambiente da CCDR Lisboa e Vale do Tejo, fundou o núcleo de Ourém e Ribatejo da Quercus, lutou contra a poluição e viu Portugal evoluir ambientalmente. Hoje, diz, a sustentabilidade é crucial para ordenar o território e defende a união entre ambiente e economia

José Alho
Ricardo Graça
Jacinto Silva Duro

É um dos fundadores do Núcleo do Ribatejo e Estremadura da Quercus esteve entre os voluntários que lutaram contra o despejo directo de efluentes das celuloses nas praias da região. Passados estes anos, questão ambiental está menos ou mais presente no quotidiano?
Esse exemplo das celuloses é muito interessante e ao qual se juntaram outros como a erradicação das mais de 300 lixeiras que havia em 1994,ou a proliferação das plantações de eucaliptos. Fizemos um caminho muito interessante com essas iniciativas, despertámos consciências e fizemos um trabalho sério, na educação ambiental. Nas escolas, as crianças assistiam às nossas modestas sessões de educação ambiental, como as oficinas para produzir papel reciclado a partir de papel velho, ou o Projecto Lampreia, de Ourém, que levava os miúdos à descoberta destes animais e a fazer recenseamentos dessa população, que anos depois foi classificada como espécie única no mundo. Isto contribuiu para a formação de uma consciência ambiental mais sólida nos cidadãos que, ao fazerem-se adultos, tiveram outros meios para expor as suas inquietações e denúncias. Hoje, não passa pela cabeça de um decisor político ou interventor no domínio público não considerara sustentabilidade e o futuro do planeta nos seus discursos e acção política concreta. Valorizo muito o trabalho feito pelos autarcas, que, por vezes, não é publicitado suficientemente. Mudaram o rosto dos territórios! Se virmos os índices da distribuição domiciliária da água, da recolha e tratamento de resíduos, percebemos o percurso feito. Foram esforços que mostram ser exemplos da governação multi-nível, entre a escala local e o apoio das políticas públicas definidas pela administração central e suportadas por fundos europeus. O que não significa que esteja tudo correcto. Este primado do ambiente teve sempre uma boa relação com a Economia. Contrariamente ao que se afirmava, sobre serem lados opostos, resultou em dividendos anuais e emprego para muitos trabalhadores. É um caminho que nos deve orgulhar e que deve colocar em cima dos decisores do presente e do futuro uma enorme responsabilidade de ser coerente e dar continuidade ao trabalho feito. Infelizmente, não consigo deixar de ficar céptico com eventos actuais, como o desligamento dos EUA... 

Trump saiu, pela segunda vez, do Acordo de Paris, mas já se dizia que o documento estava morto, devido à velocidade com quem as suas metas forma ultrapassadas. 
Tivemos a felicidade de ter um acordo em Paris, mesmo não sendo perfeito. Conseguiu colocar-se os Estados em acordo num documento sobre o ambiente e o importante foi a criação de concertação e de convergência mundial, que é apenas o início de um caminho que tem de ser adaptado às respostas que se consegue dar às novas exigências e à avaliação do que correu mal e que tem de ser melhorado. Não me choca que as metas possam ser prorrogadas, se isso significar que se garante o seu cumprimento. Não devemos ficar fechados em certos contextos, apenas porque foram escritos num determinado momento. Devemos ter flexibilidade nas metas intermédias, mas sem cedências nas fundamentais. Temos de perceber que há muitos interesses em confronto, neste mundo desigual. Será justo que países que não contribuíram para os danos ambientais, tenham agora também de internalizar o esforço para resolver o problema que outros causaram ao enriquecer à custa da poluição e esgotamento de recursos? O Acordo de Paris teve outra vantagem que foi assumir perante o mundo inteiro, que as alterações climáticas existem e não são ficção. 

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