Entrevista

Luciano Guerra: “Impõe-se um enorme esforço de purificação do Santuário de Fátima”

22 dez 2022 09:55

O antigo reitor diz que se criou “uma espécie de castelo intelectual” na instituição, que relegou a massa de peregrinos para “plano secundário”. Refere ainda que há gastos desnecessários e “gente a mais” no Santuário.

Maria Anabela Silva

Deixou a função de reitor em 2008. Como tem acompanhado a vida do Santuário de Fátima?
Estive 35 anos como reitor. Antes, vivi aqui durante alguns períodos. Quando deixei a função de reitor, a minha vontade era mudar-me para a Casa do Clero, em Fátima. Porém, o bispo diocesano mandou-me ficar a viver no Santuário. Era natural que fosse observando o desenvolvimento da acção pastoral. Comecei então a dar- -me conta de que o princípio fundamental era diferente do que tínhamos seguindo antes. Ou seja, no meu tempo a prioridade eram os peregrinos em geral, os quais podem considerar- se pobres, a classificação humana que mais convém aos filhos de Deus. No actual programa do Santuário, o fito primário mais explícito são os intelectuais. A dedicação total à intelectualidade não deixa espaço para a dedicação aos pobres.

Por que diz isso?
Não só o cuidado, mas sobretudo o tempo necessário, tanto num campo como no outro, é demasiado absorvente para que possam conjugar-se as duas dimensões. Se eu dou todo o tempo à ciência não posso dedicar- me aos pobres, e vice-versa. Posso esforçar-me, mas sem suficiente eficácia. Ao longo dos 35 anos em que estive em funções, nomeado de cinco em cinco anos - nunca pedi nem me neguei a ficar - fui, naturalmente, recebendo sinais de que estava a percorrer o caminho recto. Também isto foi para mim uma razão para melhor atender ao caminho diametralmente diferente do que ia sendo seguido. É verdade que a razão imediata desse novo caminho era o Centenário [das Aparições] que se estava preparando, mas o método e duração do programa seriam suficientes para marcar um futuro diferente, mesmo depois de 2017.

Viveu isso com mágoa?
Com muita mágoa. Mas, apesar de muito convencido que verdades apuradas podem e, muitas vezes, devem ser publicadas, até hoje nunca publiquei as divergências que acabo de exprimir.

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