Entrevista
Luís Tinoco: “Só nos tempos loucos em que estamos a viver é que a ideia de erudição é uma coisa que incomoda”
29 mai 2025 10:58
O compositor e Prémio Pessoa 2024 alerta para o perigo do nivelamento por baixo nas artes e na política (Fotografia de Nuno André Ferreira)
Nascido em Lisboa (1969), o compositor de música erudita, professor e investigador Luís Tinoco é filho do arquitecto, músico e artista plástico José Luís Tinoco (natural de Leiria) e neto de Maria Carlota Tinoco (que foi pianista e professora no Orfeão de Leiria) e Agostinho Tinoco (antigo docente e reitor do liceu de Leiria).
Distinguido com o Prémio Pessoa 2024, Luís Tinoco é docente na Escola Superior de Música de Lisboa e director artístico do Prémio e Festival Jovens Músicos da Antena 2 – RTP.
Prefere não lhe chamar música erudita?
Também gosto do termo. Normalmente, a razão porque me refiro a música de tradição escrita é porque, às vezes, ajuda a perceber que não há qualquer tipo de preconceito ou elitismo quando se fala de música erudita. Só nos tempos loucos em que estamos a viver é que a ideia de erudição é uma coisa que incomoda as pessoas. Aceitamos que há erudição na literatura, na arquitectura, em tantas áreas, e ao mesmo tempo também existe literatura popular, arquitectura popular, por que razão é que na música, sempre que se fala de erudição, parece que cai o Carmo e a Trindade?
O conhecimento e as elites provocam até alguma revolta? Ou, pelo menos, são questionados? É um mau sinal?
Claro que sim. As verdades relativas, as percepções em vez dos factos, isso acaba por afectar tudo, não só as artes, como a ciência, como a vida que temos. A sociedade que nos envolve hoje em dia parece estar toda focada para o nivelamento por baixo. De uma forma muito perigosa, aliás, como em Portugal vimos muito recentemente com os resultados das últimas eleições. Assim como na política há muitas coisas que são consequência – em parte, não exclusiva – dos media, principalmente, televisão e redes sociais, mais do que imprensa escrita, quer dizer, a forma como as pessoas são bombardeadas com conteúdos nulos, a cobertura noticiosa, desde funerais a celebrações de vitórias desportivas a refluxos gástricos, à náusea, isso já acontece há muito tempo, por exemplo, nos fenómenos dos media em relação a uma cultura mais pop, que é uma evidência que é altamente beneficiada.
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