Viver
Figueiró dos Vinhos, a vila que se transformou em galeria ao ar livre
Ao fim de três anos de Fazunchar, o festival de arte urbana parou, respirou e fez um balanço. Deu-se a conhecer as histórias que fizeram a história deste evento
No último dia Fazunchar, por entre as ruas e vielas de Figueiró dos Vinhos, fez-se um roteiro conduzido pela curadora, Lara Seixo Rodrigues, onde a responsável deu a conhecer as obras e as curiosidades que marcaram as três últimas edições do festival de arte urbana.
Enquanto boa parte dos habitantes da vila desfrutavam a sombra do tradicional piquenique comunitário, um grupo de 40 pessoas desafiou o calor do final da tarde e foi conhecer as pinturas murais, as instalações e as esculturas que, agora, enriquecem aquele espaço urbano.
A edição de 2021, apesar das condicionantes da pandemia da Covid-19, contou com alguns dos mais reconhecidos artistas portugueses e estrangeiros da actualidade, como a espanhola Elisa Capdevila, o argentino Bosoletti, a francesa Perrine Honoré, além dos criativos nacionais Pantónio, Mariana Duarte Santos, Samina ou Third.
Em Laínte, socioleto local ligado à actividade de comércio de têxteis, "fazunchar" é o verbo "fazer". Hoje, tal como antigamente quando os vendedores que percorriam as feiras, combinando preços e estratégias de venda usando o laínte, ele é mote para o processo de criação artística. Para... “fazer arte”.
O objectivo inicial do Fazunchar era, em parte, o de mostrar que o nordeste do distrito tinha muito mais do que a imagem negra dos fogos e das mortes de Pedrógão Grande.
Com o passar do tempo, porém, o festival ganhou autonomia e mérito próprios, tornando-se num evento de arte pública e intervenção no espaço urbano, conhecido em todo o País e promotor do território.
Sentir o território
O percurso orientado pela responsável pela Mistaker Maker, plataforma cultural incumbida da organização do festival, teve início junto ao Museu e Centro de Artes de Figueiró dos Vinhos, com vista para o Casulo de Malhoa.
Lara Seixo Rodrigues fez o paralelismo entre o Grupo do Leão e os Naturalistas, que fizeram da vila o seu lar, para traçar uma ligação entre esses artistas plásticos dos séculos XIX e XX, aos criativos contemporâneos que “fizeram” intervenções no cenário urbano, entre 2019 e 2021.
"Quando os artistas convidados para o Fazunchar chegam, são incentivados a conhecer a vila e a região durante dois dias, para que, além da literatura e das imagens que lhes enviamos, sintam o território", explica Lara, adiantando que, assim, forma-se um vínculo entre o artista, o projecto, a comunidade e o espaço.
O artista espanhol Julio Anaya Cabanding foi um dos primeiros a senti-lo na pele. Tinha na cabeça uma lista de quadros de Malhoa que pretendia abordar, mas ao chegar ao museu local, mudou de ideias.
"O trabalho dele passa por colocar, na rua, réplicas de obras que só se podem ver em galerias. Questiona por que razão a arte tem de estar fechada em museus. Cria um paralelo entre o interior, institucionalizado, e o exterior, a que todos podem aceder", enfatiza a curadora, apontando, a poucos passos do busto de Malhoa, uma reprodução do conhecido quadro Clara.
"Muitas pessoas de Figueiró nunca tinham ido ao museu e assim ficaram a conhecer estas obras que estão lá dentro."
Todas as intervenções, quadros, obras, do primeiro ano, têm uma banda sonora, escolhida pela editora Omnichord Records, de Leiria, que pode ser acedida através de um código QR.
Os temas são de bandas de Leiria, como seria de esperar.
A poucos passos, está uma das intervenções mais curiosas da terceira edição.
Pequenos bonecos da autoria de Isaac Cordal povoam o alto das paredes. Habitam, ora em casinhas de madeira construídas pelo artista galego, ora escondidas atrás das teias que vidram as janelas. ´
Encontrá-los é um bom desafio e Lara Rodrigues admite que ainda não os
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