Editorial

2020

31 dez 2020 16:00

Foi um ano duro, difícil, em que o melhor e o pior das pessoas veio ao de cima.

O ano que hoje acaba não deixará saudades a muitos de nós. Para um grande número de pessoas, tudo mudou. Ou porque foram infectadas com o coronavírus, ou porque perderam um amigo ou ente querido, ou ainda porque perderam o emprego.

Para muitos outros, poupados a estas tragédias, também houve mudanças. Aquilo que víamos como garantido foi posto em causa e de repente deixámos de poder estar com aqueles de quem mais gostamos, deixámos de poder abraçar pais e avós, mais vulneráveis. Tivemos de nos reinventar. Quer a nível pessoal e familiar, quer a nível profissional. Em todo o mundo, foram até agora infectados cerca de 82 milhões de pessoas, das quais quase dois milhões morreram.

Muitas pessoas viram agravadas outras patologias que devido à pandemia não estão a ser tratadas por falta de recursos nos serviços de saúde.

Foi um ano duro, difícil, em que o melhor e o pior das pessoas veio ao de cima.

2020 termina, apesar de tudo, com a esperança decorrente da vacina contra a Covid-19, que já começou a ser administrada.

Esperança de que a pandemia possa ser controlada, de que a tão desejada imunidade, pessoal e de grupo, possa ser atingida.

Esperança de que este inimigo invisível que nos tem atormentado possa, finalmente, ser neutralizado.

O ano ficou marcado pelo aumento do desemprego, pelo encerramento de empresas (situações que se prevê que continuem no ano que amanhã começa), pelo aumento dos pedidos de ajuda às institutições de apoio social.

Mesmo com as medidas de apoio já lançadas pelo Governo, e outras que aí venham, não há como evitar uma forte quebra da economia portuguesa, que nos últimos anos cresceu sobretudo à conta das exportações, agora comprometidas porque o resto do mundo também sente os impactos da pandemia.

Em termos económicos, a actual recessão é a pior desde a segunda guerra mundial, apontam os especialistas.

Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), a China será a única economia a expandir-se em 2020, com um crescimento de 2%.

No resto do mundo, as economias vão contrair-se, e muito. Portugal será uma delas.

Antevê-se uma queda do PIB na ordem dos 9%.

Fortemente dependente do turismo, a economia nacional terá de se reinventar, visto não ser expectável que os níveis do turismo voltem num futuro próximo ao que eram antes da pandemia. Muitos hotéis, alojamentos particulares, restaurantes, cafés, bares e discotecas poderão não conseguir reerguer-se.

Mas 2020 fica também marcado pela solidariedade, como se pôde ver um pouco por todo o País, e nomeadamente na região de Leiria, onde inúmeras empresas, particulares e câmaras municipais ofereceram donativos e equipamentos de protecção a hospitais e a instituições particulares de solidariedade social.

A pandemia veio também mostrar a enorme capacidade de adaptação e de inovação das empresas da região, que em pouco tempo desenvolveram e colocaram no mercado artigos criados especificamente para responder às novas necessidades.

Este deverá ser, também, um ano para nos fazer reflectir e questionar o modo de vida que temos.

Fará sentido continuarmos a fazer centenas de quilómetros de carro para uma reunião presencial, quando já se percebeu que as novas tecnologias nos permitem fazer essa mesma reunião no conforto do escritório ou mesmo de casa?

Fará sentido que grande parte dos portugueses continue a perder várias horas por dia em filas de trânsito, quando pode – como se viu durante a fase de confinamento – fazer o mesmo, ou mais, e melhor, em teletrabalho? Há lições que devem ficar deste ano.

Várias coisas resultam claras desta pandemia: as sociedades têm de estar preparadas para responder de forma muito ágil às ameaças à saúde e à segurança das populações.

Quem nos governa, quer a nível central quer a nível local, tem como grande desafio a necessidade de preparar e ter à mão instrumentos e medidas que permitam agir de forma muito rápida e eficaz em contextos de incerteza.

Que tenderão a ser cada vez mais. 2020 fica também marcado por dois outros eventos que irão trazer mudanças para o mundo e para Portugal. Um deles é a eleição de Joe Biden para presidente dos Estados Unidos da América.

Espera-se que o novo líder de uma das maiores economias mundiais esteja mais disponível do que o seu antecessor para se empenhar numa cooperação internacional que englobe problemas globais, do coronavírus às mudanças climáticas.

Outro evento que terá certamente impactos em Portugal e no distrito de Leiria é o Brexit.

A partir de amanhã, o Reino Unido deixa de ser membro da União Europeia. Mesmo tendo chegado a acordo no que se refere ao comércio e cooperação (foi no passado dia 24, quatro anos e meio depois do referendo que determinou a saída), são de esperar “grandes mudanças” na relação entre os dois blocos, como já alertou a Comissão Europeia.

Como nunca no passado, são necessários entendimentos, consensos que coloquem a humanidade acima dos interesses de cada país. Que 2021 possa trazer-nos boas notícias nesta e noutras matérias.