Opinião
A bota e a perdigota
O cansaço e a insatisfação da classe docente, e que levou a que esta fosse para a rua manifestar-se, é o sinal de anos de más decisões políticas
Em qualquer sociedade democrática, a Educação assume um papel central para o seu futuro individual e coletivo. O analfabetismo que caracterizava o País antes da década de 70, e que afetava 3 em cada 4 portugueses, foi sendo paulatinamente esbatido. Porém, temos ainda muito para fazer nesta área.
Os ganhos da escolarização e da qualificação para a sociedade são inegáveis e o desenvolvimento passará muito por reforçar este caminho. Para tal, há um pilar essencial: os professores. Sem eles, não é possível almejar um sistema educativo de qualidade e catalizador de mudanças e transformações sociais.
O verdadeiro elevador social – a Educação – só funcionará com professores valorizados e motivados, respeitados pela sociedade, em especial, pela classe política. O que temos assistido nos últimos anos é, pois, a antítese do que deveríamos estar a fazer.
O cansaço e a insatisfação da classe docente, e que levou a que esta fosse para a rua manifestar-se, é o sinal de anos de más decisões políticas. O resultado está à vista: caos e instabilidade nas escolas, milhares de alunos sem aulas ou sem professores, uma classe esgotada e farta de promessas não cumpridas.
Entretanto, assistimos à corrida aos colégios privados, num processo de degradação da Escola Pública que é absolutamente contrário à centralidade que esta devia ter.
A igualdade de oportunidades está cada vez mais comprometida, apesar da retórica política apontar noutro sentido. Este é, de resto, o mesmo que se passa na saúde.
Apesar dos discursos inflamados de defesa do Serviço Nacional de Saúde, nunca tivemos tantas pessoas com seguros privados, nem nunca as unidades de saúde privadas lucraram tanto como nos últimos anos. Há cada vez mais uma segmentação entre quem pode pagar e quem não pode.
A Saúde e a Educação são dois exemplos que mostram o resultado concreto de más opções, cujos efeitos são os contrários do que se pretendia alcançar. É mesmo caso para dizer que a bota não bate com a perdigota. Para mal do País.