Opinião
A campanha que nunca o foi
Gostaria de falar de três coisas que ditarão o nosso futuro próximo e a longo prazo
Agora que passou a campanha eleitoral, vale a pena lembrar os assuntos de que ninguém falou, no meio de coisas tão essenciais para a agenda da Nação como as preocupações do Zé Albino com a “governabilidade”, a reintrodução da pena de prisão perpétua (a urgência, meu deus!!), os bandalhos do RSI com Mercedes à porta (todos os três ou quatro no país inteiro), ou os impostos que, se descerem, vão fazer aumentar salários (é importante falar da fantasia, também!).
Sim, gostaria de falar de três coisas que ditarão o nosso futuro próximo e a longo prazo, que não mereceram um segundo que fosse de atenção, e sobre as quais não se exigiram compromissos de quem viesse a ser governo.
Comecemos pela seca (leia-se a agricultura como um todo), que de repente está em todos os noticiários, como se não se soubesse que praticamente não choveu desde Novembro - como se não se soubesse que esta é uma tendência há muito prevista e contra a qual não só se tem feito muito pouco, como se têm tomado decisões que activamente agravam as consequências da seca extrema no país!
Se vamos ter cada vez mais secas, e mais extremas, que tipo de medidas de racionalização e gestão dos escassos recursos hídricos teremos? Os agricultores alertam constantemente para o facto de estarem completamente sozinhos a lidar com estes problemas, não havendo soluções colectivas ou centrais que os ajudem.
O que me leva para o assunto nº 2: porque é que não se falou mais sobre as estratégias nacionais de mitigação e adaptação às alterações cimáticas?
Será possível que ainda não seja hora para este ser o assunto dos assuntos?
Desde a agricultura à indústria, acabando nos sacrossantos serviços turísticos, todas as dimensões económicas estão e vão ser afectadas negativamente pelas AC, e a questão passa como se nada fosse!
Onde estão as políticas? Onde está o investimento (notem que não digo subsídios por perdas e destruição)?
Onde está o trabalho com investigadores que encontrem soluções inovadoras que possam ajudar os produtores a encontrar formas mais sustentáveis de produzir?
O que me leva a outra questão (assunto nº3…), que é a última mas podia bem ser a primeira: alguém se sente esclarecido sobre onde e como vão ser aplicados os 16.644 milhões de euros do PRR, que vai ser gerido por uma legislatura em maioria absoluta que pouco ou nada terá de negociar sobre este assunto?
Sabiam que há um site só para estes fundos, de tão complexos que são os seus propósitos?
Posso ter andado distraída, concedo, mas não me lembro de nada disto ter sido discutido nesta campanha.