Opinião
A doença que nos Chega da Direita
Deixámos de querer ouvir todas as pessoas que nos querem apresentar uma solução que demore mais que 20 segundos a explicar
Chegou o momento que todos sabíamos que chegaria: as pessoas estão fartas do PS, do PSD, da CDU, BE, CDS, de todos os partidos e de todos os políticos. Estão fartas de nomeações de incompetentes, fartas de casos de corrupção, fartas de se sentirem pequenas, fartas de ouvirem os partidos dizer que querem ouvir a população sem quererem realmente saber. E, nesta situação todos os políticos parecem igualmente maus.
Podia fazer o que toda a gente gosta e vir para aqui dizer mal dos políticos mas a realidade é que actualmente os políticos são um espelho perfeito das populações que representam.
Nós, os cidadãos, deixámos de querer ouvir todas as pessoas que nos querem apresentar uma solução que demore mais que 20 segundos a explicar. A nossa janela de atenção passou a ser a duração de um vídeo do tiktok e nesses poucos segundos a única coisa que passa são acusações ou soluções fáceis para problemas complexos.
Este próprio texto também não vai ser lido pelas pessoas que o deviam ler porque essas já não querem saber de jornais nem de informação de fontes fidedignas. Verdade seja dita, também já não há muitas.
A comunicação social tem aqui um importante papel na situação em que estamos. É a comunicação social, mas sobretudo as redes sociais, que ajudam a que se acentuem alguns sentimentos que ajudam a extrema-direita a prosperar.
Por exemplo, a sensação de insegurança que vivemos e que pura e simplesmente não tem base em nenhum dado existente. Nos relatórios de segurança interna do país podemos ver claramente que Portugal nunca foi tão seguro como na última década. No entanto, a maioria dos cidadãos acha que a insegurança está a crescer porque somos todos bombardeados com notícias sobre isso nas redes sociais e na imprensa. O mesmo acontece com uma suposta falência e destruição dos serviços públicos que também não é uma realidade. O Estado nunca teve tantos funcionários públicos, com uma enorme contribuição das autarquias, sendo a educação a área com maior número de novas contratações.
A extrema-direita portuguesa visa copiar a extrema-direita internacional e reproduzir a Grande Mentira mas desta vez aplicada aos migrantes. Tentam culpá-los de ficarem com o dinheiro dos nossos impostos através dos apoios sociais quando, na realidade, os migrantes contribuem com um saldo positivo de mil e seiscentos milhões de euros por ano, leram bem, 1.600 MILHÕES!! Tentam culpá-los por um aumento da insegurança quando, na realidade, Portugal nunca foi tão seguro e nunca houve tão poucos migrantes presos em Portugal.
A doença que nos chega da direita é consequência direta da nossa vida nas redes sociais, da desinformação e da queda de todos os cânones jornalísticos de grande parte dos órgãos de comunicação social que já não conseguem (e muitos não querem) fazer a sua função de gatekeeping.
No Facebook, sou um dos administradores do Grupo Leiria que tem cerca de 70 mil membros e onde todas as publicações são previamente aprovadas pelos administradores, algo que nos dá muito trabalho mas onde conseguimos fazer real gatekeeping. Se alguém quiser fazer um post com alguma acusação sobre algo na região de Leiria, nós vamos primeiro perceber se há motivos para essa acusação. Se houver, o post pode entrar no grupo, se não houver, o post é rejeitado. Temos regras e elas são cumpridas. Só assim conseguimos garantir que o grupo não se torna num campo minado de desinformação.