Editorial
A guerra e o blá, blá, blá
O que mais se tem ouvido são promessas do envio de mais armamento
Parece que foi ontem e já passaram três meses.
Há 91 dias que assistimos, incrédulos, ao desenrolar da invasão militar da Ucrânia por parte do regime russo.
António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, considerou o ataque “moralmente inaceitável, politicamente indefensável e militarmente sem sentido”, mas as bombas continuam a cair em solo ucraniano.
A União Europeia condenou “veementemente” a agressão militar “não provocada e injustificada” por parte do exército de Vladimir Putin, o Conselho Europeu e a Comissão Europeia passaram a reunir-se regularmente para debater a situação, blá, blá, blá, blá, blá, blá, e as imagens de cidades e aldeias completamente dizimadas continuam a preencher os nossos telejornais da hora do almoço e do jantar.
O presidente dos Estados Unidos da América e a presidente da Comissão Europeia disseram estar “unidos na condenação à agressão injustificada e não provocada da Rússia contra a Ucrânia”, blá, blá, blá, blá, e o drama das famílias, de idosos e crianças afectadas pelos sucessivos bombardeamentos continuam a encher as páginas dos jornais.
Os países mais industrializados do mundo, agrupados no chamado G7, comprometeram-se a mobilizar 18,7 mil milhões de euros para apoiar as finanças da Ucrânia, blá, blá, blá, blá, blá, e, já esta semana, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados anunciou que o número de pessoas forçadas a fugir de conflitos, violência, violações de Direitos Humanos e perseguições ultrapassou, pela primeira vez, a marca de 100 milhões, impulsionado pela guerra na Ucrânia e outros conflitos violentos.
O grupo formado pelos ministros das finanças e responsáveis dos bancos centrais das 19 maiores economias mundiais, mais a União Europeia, conhecido por G20, prometeu doar mais de 22 mil milhões de euros à Ucrânia, blá, blá, blá, blá, blá, e as notícias dão-nos a conhecer a história do imberbe soldado russo, de 21 anos, o primeiro a ser condenado na Ucrânia a prisão perpétua, por crimes de guerra.
Nestes três meses, muito se tem falado de geoestratégia, geopolítica e diplomacia, mas não tanto da crise humanitária e da insegurança alimentar que está a afectar milhões de ucranianos.
Curiosamente, o que mais se tem ouvido são promessas do envio de mais armamento para a zona de conflito, supostamente para acabar com a guerra.
Que estranho mundo este.