Opinião
A Inteligência Artificial e a sustentabilidade: uma faca de dois gumes
Para além da pegada do carbono, a IA é responsável pela elevada produção de lixo electrónico
A Inteligência Artificial (IA) é uma das tecnologias mais disruptivas do século XXI. Utilizando algoritmos avançados e grandes volumes de dados (big data), a IA permite que máquinas e programas aprendam, adaptem-se e executem funções de maneira automatizada e eficiente. A IA tem sido utili-zada na tomada de decisão de problemas complexos, transformando diversos sectores da sociedade.
Também os desafios da sustentabilidade têm sido resolvidos pela IA. A IA tem sido utilizada para prever o consumo de energia, permitindo que as empresas planeiem e optimizem o seu consumo, reduzindo os picos e os custos associados. Já existem sistemas de automação em edifícios que utilizam a IA para controlar o uso de energia em tempo real, ajustando a iluminação, o aquecimento ou arrefecimento, de acordo com as condições ambientais e de ocupação. Outras aplicações da IA existem na gestão da água e na reciclagem de resíduos.
A utilização da IA e a produção e análise de big data podem ter um impacte ambiental bastante relevante e que não pode ser descurado. A IA é um emissor significativo de gases com efeito de estufa. Num estudo conduzido por investigadores da Unidades de Massachussets Amherst, estimou-se que a pegada de carbono para treinar um modelo de IA é de cerca de 300.000 kg de emissões de dióxido de carbono. Tal corresponde a 125 voos de ida e volta entre Nova Iorque e Pequim.
Para além da pegada do carbono, a IA é responsável pela elevada produção de lixo electrónico. Os data center têm necessidade de renovar os seus equipamentos com alguma periodicidade (5-10 anos), o que obriga à substituição por equipamentos novos e ao encaminhamento dos resíduos pro-duzidos para reciclagem ou aterro. Se a reciclagem for o destino final, ainda será possível recuperar alguns dos materiais; se for aterro, nada é recuperado. Antes de reciclar poderá pensar-se em soluções de circularidade, como o recondicionamento dos computadores e de outros dispositivos. Também a área de solo que ocupam é considerável, o que pode impactar a biodiversidade existente na região onde se encontram.
A IA terá de fazer um caminho para ser mais sustentável, e esse caminho passa por olhar para ela própria e encontrar soluções. A chamada computação sustentável (sustainable computing) já se encontra a dar os primeiros passos e, com a ajuda da IA, poderá alcançar práticas ambientais e sociais cada vez mais responsáveis.