Opinião
"A morte é egoísmo"
Outro dia ouvi este discurso no meio da rua, reproduzo-o aqui com a exactidão possível: "É um fantástico contra-senso dizermos que a depressão é a doença do século, que o mundo é triste e cruel e depois ficarmos mal surpreendidos quando as pessoas morrem.
Além disso a morte é egoísmo, egoísmo e falta de respeito. A morte portuguesa, católica, humana é uma convenção feita por vidas muito malamanhadas.
As saudades são caprichos tidos como injustiças que quase nos levam de Deus mas como continuamos com medo, Deus fica, além disso a festa de despedida muitas vezes é feita na casa que dizem que é dele.
E cá vamos não é vizinha? Pois, a vida é assim, não somos nada. Deus nos ajude porque nós não sabemos. A igreja católica gosta disso. Está em altas no seu plano de marketing imaculado, suga, suga, toma lá uma hóstia, dá cá uma procuração de existência. Vá, não custa nada, enfia lá isso e volta cá no domingo para manutenção.
A morte é um monumento com estátuas erguidas à ignorância, património da humanidade, invisível, presente, uma nuvem carregada de escolhas sociais e religiosas. Pesada, pesada.
Depois dizem assim "oh, cantava tão bem, nunca mais EU irei ouvir a sua voz". Fuck you! - RIP - E se a pessoa não quiser descansar? - LOL. A alma pode não querer descansar. Sabemos?
O Prince disse que queria descansar em paz? O George Michael? O Bowie? A mim não disseram e não vi em lado nenhum que era o que queriam. Eu quando morrer não quero descansar, para que conste.
*músico
Leia mais na edição impressa ou torne-se assinante para aceder à versão digital integral deste artigo.