Opinião
A propósito de tragédia(s)
Fiquei destroçado com o que fui vendo e ouvindo nas notícias.
Como terá acontecido, com toda a certeza, com muitos portugueses, dormi mal na noite de sábado para domingo, perante a consternação provocada pela notícia de que indivíduos e famílias inteiras tinham morrido carbonizados dentro das suas viaturas em Pedrogão Grande.
As nossas televisões, amarradas à curiosidade quase mórbida de muitos dos telespetadores (e também, evidentemente, à genuína preocupação de tantos outros), fizeram diretos minuto a minuto a partir do “teatro de operações”.
Fiquei destroçado com o que fui vendo e ouvindo nas notícias, sentimento agravado pelo facto de os meus melhores amigos serem do Pinhal Interior Norte, nomeadamente o Fernando Lopes, presidente da Câmara de Castanheira de Pêra (a quem dirijo um grande abraço de solidariedade) concelho, também ele, assolado pela devastação provocada pelo fogo.
É certo que, se fiz donativos para o Haiti (cuja gestão dos mesmos foi uma vergonha mundial com pessoas famintas a morrer e milhões de toneladas de alimentos a apodrecer nos portos do país), não deixarei de o fazer na conta aberta a favor das vítimas do incêndio que flagelou os nossos concidadãos.
Mas será este meu gesto algo de extraordinariamente relevante? Acho sinceramente que não! Dou por mim a pensar que Martinho Lutero diria, desse meu gesto, algo parecido com o que expressou a propósito das indulgências.
A indulgência, do latim indulgeo (gentil) é muito pouco para a(pagar) a nossa culpa coletiva e individual face às tragédias que nos assolam constantemente, ocorram elas no Pedrógão Grande, em Londres ou no Mediterrâneo (neste caso, praticamente, todos os dias).
* Ex-diretor da Segurança Social do Distrito de Leiria
Texto escrito de acordo com a nova ortografia
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