Editorial
A queda de um mito
O documento referiu ser “praticamente impossível conciliar em segurança o tráfego aéreo civil com a operação militar”
A abertura da Base Aérea de Monte Real ao tráfego civil tem sido, ao longo das últimas décadas, um tema recorrente: nas campanhas eleitorais, nas reivindicações dirigidas à Administração Central, nos planos estratégicos de desenvolvimento regional, nos programas partidários.
A discussão sobre a futura localização do novo aeroporto de Lisboa voltou a trazer o assunto para o palco político das intenções. Mas, desta vez, o resultado pode muito bem ser a queda de um mito, apesar do presidente da Câmara Municipal de Leiria continuar a insistir na possibilidade da convivência em Monte Real entre a aviação civil e a militar.
Antes deste tema voltar à ribalta, o JORNAL DE LEIRIA tinha perguntado ao Ministério da Defesa se era possível conciliar a aviação civil na BA5 com os compromissos assumidos com a NATO. Na ocasião, obteve uma resposta curta e, de alguma forma intrigante, tendo em conta o histórico deste assunto.
“A eventual abertura da BA5 ao tráfego aéreo civil teria de ter em consideração uma análise de propostas concretas, pelas entidades competentes, no sentido de aferir a possibilidade da utilização do aeródromo de Monte Real, sem prejuízo da actividade operacional dos meios da Força Aérea aí sediados e dos compromissos assumidos junto da Aliança [Atlântica]”, afirmou a tutela ao nosso jornal.
A semana passada, o relatório da Comissão Técnica Independente que está a estudar a localização do novo aeroporto e que retirou Monte Real da equação, foi, finalmente, mais esclarecedor.
Citando o Estado Maior da Força Aérea, o documento referiu ser “praticamente impossível conciliar em segurança o tráfego aéreo civil com a operação militar”, quer pela importância estratégica da unidade para a Força Aérea, quer pelo facto de albergar aeronaves armadas “em alerta permanente”, durante 24 horas por dia, 365 dias por ano, responsáveis pela defesa do espaço aéreo nacional e dos países da NATO.
Perante esta explicação, será que ainda faz sentido continuar a bater na mesma tecla? É que, um dos argumentos base para trazer aviões civis para Monte Real é a proximidade com Fátima, e a proposta da criação do novo aeroporto em Santarém, considerada como uma das fortes candidatas, serve o mesmo propósito.