Opinião
A rapariga da frutaria
“Ia eu adivinhar que a rapariga era instruída ao balcão da frutaria!”
Tenho o privilégio de ter uma amiga que considero inteligente, culta, atenta, sensível, professora por vocação. É uma Mulher que merece o trato escrito em maiúscula. É, sobretudo, uma esteta.
Mesmo que a propósito de uma qualquer banalidade procura sempre o belo como um bem superior, na forma como o diz, nas metáforas que usa. Amiúde me envia magníficas imagens de telas ou ilustrações a parafrasear um pensamento, o que me faz pensar dela que se serve da pintura como representação simbólica da vida.
Tem sempre o cuidado de me ensinar a arte como metáfora para aprender a ler o mundo de outro modo. Mas não é um privilégio meu, que esta atitude didática se repete nas suas aulas e com quem priva.
Há dias contou-me um episódio magnífico, que fez o favor de me autorizar a partilhar convosco, e que transcrevo tal como me disse: “a rapariga da frutaria aqui da Quinta do Alçada ontem olhou para o meu saco das compras e exclamou ‘Ai que saco tão lindo!’
É uma reprodução do ‘Passeio de Domingo’ de Seurat. Senti-me altamente fantástica e erudita na Quinta do Alçada, ao que lhe respondi, ‘Mas eu digo-lhe onde se compram...’. Não me deixou acabar a frase e disse, ´É na Livraria Arquivo, eu sei. Tenho dois A noite Estrelada, de Van Gogh, e O Grito, de Munch.
“Ia eu adivinhar que a rapariga era instruída ao balcão da frutaria!”
Convenhamos, é uma bela história! Mas é sobretudo um daqueles pequenos episódios que dá que pensar. É suposto vivermos num país com um razoável nível de vida, muito aquém de outros mas mesmo assim dentro dos limites do suportável.
Garantidas as necessidades básicas para a maioria da população, naturalmente, e segundo a hierarquia das necessidades de Maslow, surge a vontade de acesso à cultura enquanto realização pessoal.
Acontece vivermos um tempo conturbado no que à cultura diz respeito, ou melhor dizendo, no que à definição de cu
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