Opinião
Ainda a propósito dos Jogos Olímpicos
Foi, por isso, com alguma irritação, confesso, que vi eleger, e só eles, como os maiores expoentes dos Jogos Olímpicos, aqueles que tinham maior número de medalhas, ignorando o mérito absoluto das performances que tinham conseguido.
Meu Caro Zé,
Recordar-te-ás que na nossa última conversa eu referia que, nos Jogos Olímpicos, ao contrário do que é cultura prevalecente, não se aplica o lema “o segundo é o primeiro dos últimos” mas, na maioria dos casos, “o quarto é o primeiro dos últimos”, porque os três primeiros obtêm medalhas. E foi ver, ouvir e ler o afã com que em Portugal se procurava que os atletas portugueses as obtivessem, ignorando o mérito do seu comportamento sempre que esse objetivo foi atingido.
Pior que isso! Em todos os sites e nos meios de comunicação social, a “lista do sucesso” era a ordenação dos países por medalhas. E aí, de novo, se aplica, de algum modo, o princípio “o segundo é o primeiro dos últimos”, pois um país com uma (!) medalha de ouro isolada aparece classificado à frente de outro com, por exemplo, 10 medalhas de prata e 15 de bronze! O sucesso individual acima de tudo! E lá vem, outra vez, a lógica de vencer, mais do que a de superar-se! Foi, por isso, com alguma irritação, confesso, que vi eleger, e só eles, como os maiores expoentes dos Jogos Olímpicos, aqueles que tinham maior número de medalhas, ignorando o mérito absoluto das performances que tinham conseguido.
Não estou a pôr em causa o incontestável mérito de Phelps ou de Bolt, mas acho que foram “olimpicamente” ignoradas duas performances que, a meu ver, constituem os pontos mais altos dos Jogos Olímpicos: a do sul africano Van Niekerk (que bateu a já extraordinária marca de Michel Johnson nos 400 metros, que datava de 1999) e a etíope Almaz Ayana (que superou a espantosa marca da chinesa Wang Junxia, derrotada, ainda mais espantosamente pela “nossa” Fernanda Ribeiro em Atlanta, dos 10.000 metros que já durava há cerca de 23 anos).
*Professor universitário
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