Editorial
Aprender a correr
Se há teorias que estão comprovadas, a da aprendizagem pelo exemplo é uma delas
Ao longo do nosso percurso pessoal e profissional, vamo-nos cruzando com pessoas e momentos que se perpetuam na memória, se estivermos disponíveis para absorvê-los e, acima de tudo, se descortinarmos um sentido, uma interpelação… uma inspiração.
Há uns anos, durante um trabalho jornalístico sobre educação, uma professora rematou a conversa com a seguinte afirmação: “Sabe, o problema é que os pais não têm tempo para os filhos e para os tentar ‘compensar’ criam-lhe autênticos centros de recursos no quarto!”.
Estávamos num tempo em que alguns adolescentes, mais privilegiados, começavam a ter direito à sua TV, ao seu computador, à sua consola de jogos.
Hoje, os jovens têm tudo isto e muito mais num simples telemóvel. Imaginem agora a quantidade de informação a que eles têm acesso, com um ligeiro deslizar de dedo.
Mas estarão eles habilitados a lidar com tamanho volume de dados? Estarão eles educados para distinguir o que é informação, opinião ou manipulação?
Provavelmente, para muitos, nem uma coisa nem outra. Mas eles serão os menos culpados.
Porque se há teorias que estão comprovadas, a da aprendizagem pelo exemplo é uma delas.
E, defendem os entendidos na matéria, uma criança que é habituada a manusear livros impermeáveis durante o banho, a ouvir as personagens das histórias pela voz dos pais e a crescer com gosto em ler, imaginar e interpretar, pode ter mais facilidade em decifrar os códigos de conduta e os conceitos de cidadania.
Estando nós num patamar social em que se vai assumindo que ninguém pode ficar para trás, vale a pena questionar a forma como estamos a educar.
Pelo menos em relação à percentagem de jovens identificados como “analfabetos funcionais”, um rótulo que pode parecer depreciativo, mas que define apenas os que sabem ler e não conseguem compreender o que estão a ler.
Uma consequência dos tais “centros de recursos” e da digitalização que tem vindo a conquistar cada vez mais espaço e relevância nas nossas vidas.
O trabalho de abertura que vos trazemos esta semana, não só explica o fenómeno, como dá pistas sobre as causas, possíveis consequências e soluções.
Indica-nos que há ainda caminho a percorrer até ao pleno equilíbrio entre a melhoria da qualidade de vida e a melhoria de qualidade da vida.
Na escola e em casa.