Opinião
Artes Visuais | Escultor dos escultores
Gosto de ter em Leiria pessoas destas. O Mário é um gajo simples mas sensível, que se compraz no seu trabalho
Recentemente visitei o escultor leiriense Mário Lopes (1982). O atelier, um conjunto de dois ou três espaços antigos, reconstruídos e unificados por ele é muito fixe. Numa zona trabalha pedras enormes, com guindastes e ferramentas por todo o lado, noutra mostra cerca de uma dúzia de esculturas de grandes porte. Têm entre elas o espaço necessário para se apresentarem uma a uma e são distintas o suficiente para serem apreciadas autonomamente.
Senti-me impelido a procurar entendê-las mas estava a ter alguns problemas em encontrar uma influência, uma estética ou preocupação semelhante. Pedi-lhe para escolher a arte de uma cultura antiga e ele respondeu a arte megalítica pré-histórica. E voilà, o meu entendimento sobre o trabalho dele mudou naquele mesmo instante. A partir dali todas as peças me pareciam dólmens, antas ou círculos monolíticos, numa versão bué século XXI.
São de natureza abstracta porque não precisam de mostrar nada de concreto. A escala, a beleza intrínseca do material e o acabamento que o autor lhes confere chegam para nos deslumbrar. Vemos formas geométricas simples, estranhamente equilibradas, mas esculpidas de forma precisa. São lindas.
Gosto de ter em Leiria pessoas destas. O Mário é um gajo simples mas sensível, que se compraz no seu trabalho. Vive e trabalha de forma confortável, o que me faz crer que andará por cá muitos e bons anos a produzir.
As suas qualidades técnicas não passam desapercebidas, e em consequência disso, uma boa fatia do seu tempo é ocupado a esculpir para outros autores. Entre mãos, aquando da minha visita, tinha um bloco gigante de mármore que estava a esculpir para uma artista iraniana expôr na Suécia.
Brincando diria que é o escultor dos escultores...