Opinião

As ilhas urbanas do meu (por agora) encantamento

29 abr 2023 10:37

Vejo nas críticas simplórias feitas, nesta área, às decisões políticas, apenas a vontade de que quem as faz se mostrar superior ao decisor político

Tive na semana passada a visita de um primo que já não via há muitos anos. Engenheiro químico, ao longo dos seus oitenta anos a viver no estrangeiro, ligado à indústria do ferro, desde cedo se sentiu obrigado a envolver-se na investigação de processos que contrariem a enorme emissão para a atmosfera de dióxido de carbono que a obtenção do ferro a partir do granulado de ferro tem provocado e desde então, alargando a sua luta à necessidade de também controlar a libertação de metano, outro gás, altamente poluente, tornou-se um expert na investigação de procedimentos que diminuam as emissões para a atmosfera desses poluidores o que o tem levado à necessidade de viajar pelo mundo.

Ora, andávamos nós a passear por Leiria quando nos deparámos com uma das ilhas urbanas que o município de aqui decidiu instalar. Expliquei-lhe que serviam, entre outras coisas, para avaliar a concentração de poluentes atmosféricos e para medirem o ruído ambiente. Disse-lhe também que têm uma iluminação abastecida por energia produzida pelo vento e pelo sol o que se traduz numa redução de emissões de dióxido de carbono de 48 toneladas por ano e ele ficou encantado!

E nem quando lhe falei dos 200 mil euros que estes equipamentos custaram esse encantamento se esvaiu. Lembrou-me dos milhões que as empresas têm de despender para se tornarem menos poluidoras e de como tal é crucial para que a vida, tal como os seres humanos a organizaram no planeta, possa vir a ser sustentável.

Citou Goethe ao dizer-me que “as coisas mais importantes nunca devem estar à mercê das coisas que importam menos” e de como estas ilhas em Leiria podem ser entendidas como uma parte de uma célula que ao reproduzir-se dará origem a tecidos que juntos formarão órgãos que, em harmonia com outros, serão capazes de produzir organismos amigáveis da vida no planeta Terra.

Mas será que todos veem o mesmo? Será que a necessidade urgente de diminuir as emissões de gases que provocam o terrível efeito de estufa é um facto para todos? A mim parece-me que não!

Por um lado, vejo nas críticas simplórias feitas, nesta área, às decisões políticas, apenas a vontade de que quem as faz se mostrar superior ao decisor político. Por outro lado, perante as chusmas de críticas que recebem, muitos desses decisores políticos preferem desprezar as que são construtivas para se inebriarem com inúteis elogios falsos.

Quanto a mim? Eu gosto de ter na cidade as ditas ilhas! Estou ansiosa por através delas poder exigir aqui e para o mundo o “desenvolvimento de estratégias para a construção de um território mais sustentável e com melhor qualidade de vida”.