Opinião

Assuntos parlamentares e par(a) lamentares

25 mar 2017 00:00

A Assembleia da República (AR), o nosso Parlamento, é talvez o órgão de soberania mais impopular do país, malgrado a Justiça, que também não recebe muitos aplausos. Vive (funciona) nos moldes com que funcionava nos finais da monarquia liberal.

Eça de Queiroz deixou-nos epítetos sobre o seu funcionamento, que até parece que estamos a ver a AR dos nossos dias. 

Poupo-vos a essas críticas mordazes que faziam corar as senhoras de vergonha. Mas não resisto à qualificação de deputados “de cu” com que Eça pretendia designar a maior parte dos representantes do povo: entravam mudos, saíam calados e em toda a legislatura só se levantavam para votar, sentando-se de imediato.

Se repararem bem, é o que acontece ainda hoje à “multidão” dos 230 deputados que supostamente nós elegeríamos, mas na realidade não elegemos. Já aqui expliquei isto e por isso passo à frente. O que me traz hoje a este assunto é o deplorável aspecto de que a AR dá mostras, sobretudo nos debates quinzenais, na presença do governo.

Por pouco e por este andar não tarda que não estejamos a assistir a espectáculos de agressão física, como temos visto noutros países miseráveis por esse mundo fora. Apesar da pedagogia do Presidente Marcelo, desvalorizando (disfarçando?) a crispação e sublinhando que em política não há inimigos mas apenas adversários.

De facto assistimos todos os dias a cenas lamentáveis que rodam o insulto e a falta de educação. Há dias, quando o ministro Centeno anunciava o valor definitivo do melhor défice de há 42 anos, nem um sorriso nos sectores das oposições.

Em qualquer democracia moderna, o líder da oposição levantava-se e ia felicitar o ministro pela proeza, como tantas instâncias internacionais, aliás, fizeram.

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*Economista