Opinião

Até quando?

6 jan 2023 11:26

Cada um de nós tem de procurar saber como viver em paz consigo mesmo e solidário com o Mundo

Meu caro Zé,

Estamos em 2023 e parece que esta década dos “20” nos não dá descanso, nem do lado da Natureza, nem do lado da Política Internacional, nem do lado da Política Nacional.

E no meio de tudo isto, cada um de nós tem de procurar saber como viver em paz consigo mesmo e solidário com o Mundo, começando pela família e pelas vizinhanças que crescem em círculos concêntricos.

E é, exatamente, no momento em que os desafios nos obrigariam a sermos capazes de pensar também nos outros e na Mãe Terra, que nos enquistamos nos nossos próprios egoísmos, como se cada um de nós fosse a maior vítima destas condições reconhecidamente adversas que nos rodeiam.

Quando escrevi “nós”, lembrei-me de um colóquio há uns anos em que se discutia, como é costume, a evolução da economia e da sociedade portuguesa. Quando chegou a minha vez de intervir, o moderador perguntou-me se “nós” estávamos melhor, iguais ou piores do que anteriormente. E eu, num repente, perguntei: A que “nós” se está a referir?

E este pareceu-me o ponto crucial a acompanhar neste ano de 2023, já que todas as condições que referi inicialmente apontam para vários grupos de “nós”, havendo, em particular, um grupo que está cada vez “melhor” (no critério da utilidade, que não necessariamente da ética), e a maioria cada vez pior! Em linguagem mais técnica, acentuaram-se ferozmente as desigualdades.

E, em meu entender, essa situação é o alvo a combater neste ano de 2023, sem desfalecimento, porque se o não fizermos, para além do crime social (eticamente não posso classificar a situação de outro modo), é uma situação explosiva que poderá levar as democracias ocidentais a desaparecer, criando-se a ideia, crescente, da “democracia soberana” como na Rússia ou a “democracia autocrática” como a Hungria e outros tantos, para já não falar no regime chinês e em alguns regimes da América Latina.

É uma vergonha para uma verdadeira democracia, isto é, governo do povo, com o povo e para o povo (isto é, todos e cada um de nós), a aviltante desigualdade que se sente crescentemente numa altura em que os meios de comunicação e informação tornaram o mundo uma “aldeia” e em que a “vizinhança” de cada um é já o mundo, mergulhando-nos nas gritantes condições em que cada grupo dos “nós” vive.

Cá pela nossa terra, as coisas não vão melhores deste ponto de vista, e a famigerada (e abusada porque também especulativa) inflação só agrava a desigualdade.

Acresce a isso uma famigerada “maioria absoluta” que pensa que Portugal e os portugueses são a sua “quinta”! E os efeitos nefastos começam a sentir-se mais vigorosamente. Vamos ver se 2023 ajuda a, devagar, ultrapassar tudo isto. Por mim não há desistência!

Até sempre,