Editorial
Ciclovias para inglês ver
Os resultados dos Censos podem causar estranheza, mas não surpreendem os especialistas em mobilidade, que criticam a ausência de planeamento
Os dados definitivos dos Censos 2021, relativos à mobilidade, revelam que a utilização do automóvel para as deslocações de casa para o trabalho ou para a escola aumentou significativamente no distrito de Leiria e concelho de Ourém.
Em contrapartida, a opção pelos transportes públicos diminuiu 12% nos últimos 10 anos, as deslocações a pé também baixaram e as viagens de bicicleta para os locais de trabalho ou para os estabelecimentos de ensino conquistaram mais adeptos, mas em número quase residual.
Tendo em conta os investimentos anunciados pelos municípios nos últimos anos, quer na construção de ciclovias, quer na melhoria das acessibilidades e no reforço da rede de transportes urbanos, estes resultados podem causar estranheza, mas não surpreendem os especialistas em mobilidade, que criticam a ausência de planeamento, sobretudo a falta de articulação entre todos os meios de transporte.
Recorde-se que, em 2016, a Câmara Municipal de Leiria apresentou um Plano Estratégico de Mobilidade e Transportes, que chegou até a estar em discussão pública, mas que, até agora, ainda não chegou à sua versão final.
No ano seguinte, foi a vez da Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria (CIMRL) elaborar um Plano de Acção de Mobilidade Sustentável, que previa um investimento global de 133,5 milhões de euros nos 10 municípios que a integram.
Chegados a 2021 (já estamos em 2023 e o panorama mantém-se praticamente o mesmo), os objectivos traçados ficaram a léguas de serem cumpridos. Podem atribuir-se as culpas a uma enraizada falta de cultura na utilização dos transportes públicos ou da bicicleta, mas para contrariar esses comportamentos, é fundamental criar soluções e infra-estruturas articuladas e adequadas.
E, como nos diz uma das maiores especialistas nacionais em planeamento urbano e gestão da mobilidade, no trabalho de abertura desta edição, “estivemos anos a enganar a Europa, a fazer ciclovias em zonas de lazer, quando o objectivo era melhorar as cadeias de circulação”, entre a casa, o trabalho e a escola.