Opinião
Cinema e TV | Anora: Sean Baker surpreende outra vez
Embora recorra a algumas fórmulas vistas em outros dramas, é importante lembrar que Baker, o mesmo que filmou Tangerine com um iPhone 5 e nos deu o belíssimo The Florida Project, consegue sempre criar algo autêntico e emocional com muito pouco
Sean Baker volta a surpreender com Anora, um trabalho sólido e cheio de nuances que reforça o seu talento como realizador. Conhecido pela sua abordagem a histórias intimistas e pelo foco em personagens marginais, Baker entrega aqui um filme que, apesar de alguns deslizes, cativa pela emoção e pela ousadia técnica.
Um dos aspetos mais interessantes de Anora é a montagem, que o próprio realizador editou. As transições extremas entre momentos de ritmo frenético e sequências que quase parecem parar no tempo criam uma experiência única. Embora no início essa montagem rápida tenha causado estranheza — especialmente para quem, como eu, começou o filme sem saber nada sobre ele —, à medida que a narrativa avança, percebe-se que essa escolha é inteligente e serve para amplificar os momentos dramáticos.
Outro destaque absoluto é a prestação de Mikey Madison, que entrega uma das atuações mais marcantes do ano. A sua interpretação é crua, visceral e consegue transportar emoções para além do ecrã, abalando quem assiste. Acredito que o Óscar possa ir para Demi Moore em The Substance, mas não há dúvida de que Madison merece reconhecimento.
Em suma, Anora é um filme sólido e, para muitos, valerá a pena. Embora recorra a algumas fórmulas vistas em outros dramas, é importante lembrar que Baker, o mesmo que filmou Tangerine com um iPhone 5 e nos deu o belíssimo The Florida Project, consegue sempre criar algo autêntico e emocional com muito pouco. É um nome que continua a merecer destaque, e Anora não é exceção.