Opinião

Cinema | A Falta de Tempo (ou o excesso dele)

7 fev 2020 20:00

De há uns tempos para cá, tenho-me apercebido, cada vez mais, da falta de tempo de alguns amigos, pessoas próximas e outras apenas conhecidas

Parece que a falta de tempo, se tornou uma norma da sociedade, e, quem tem tempo, é visto como alguém que nada faz, um estorvo.

Não ter tempo, nem para as próprias coisas, tornou-se moda. É “fixe” não ter tempo.

Há uns anos, recordo-me, a moda era dizer-se que não se tinha tempo, quando na verdade o tempo sobrava, mas parece que isso não foi suficiente, foi realmente necessário deixar de ter tempo em nome do sucesso pessoal.

Uma pessoa sem tempo é obviamente uma pessoa bem sucedida, e uma pessoa com tempo de sobra, está claramente a deixar-lhe escapar o sucesso entre os dedos. Não sei de isto da paternidade me trouxe uma forma diferente de olhar o mundo, ou se foi a idade, ou apenas o cansaço.

Também eu, já estive desse lado, dos que diziam não ter tempo e dos que, de facto, não tinham tempo.

Hoje, tenho tempo, não muito, mas o que me basta. O suficiente para poder estar parado e dizer que não tenho tempo, porque simplesmente quero estar sem fazer nada. O tempo que se perde a não fazer nada é um tempo valioso.

No fundo o nosso corpo fica inerte sem fazer nada, mas a mente, esse ganha um novo fulgor, e nos dias que correm, uma mente limpa, é melhor que uma carteira cheia.

Parece-me que hoje em dia é um luxo ter-se tempo, mas muitos de nós ainda vivem com a sensação de que luxo é não ter tempo para nada, é sinal de trabalho e por consequência, de carteira cheia.

E isto leva-nos ao cinema, ao cinema de consumo rápido, onde uma imagem sem movimento com mais do que 10 segundos se torna enfadonha.

Ouvi esta semana o Pedro Costa dizer em Roterdão, que o cinema é tempo. Godard dizia que o cinema era a verdade, e Fellini dizia que cinema era vida. Por isso, através do cinema, percebemos que vida é tempo de verdade.

Não o desperdicem.