Opinião
Cinema | Aqui vamos nós, de novo…
Ainda há pouco estávamos a idos de março, quando nos vimos forçados a adiar sine die a 9.ª edição do hádoc – Cinema Documental em Leiria.
Motivos sobejamente conhecidos impediram-nos de partilhar com o público a nossa seleção de 7 filmes, escolhidos criteriosamente, como é habitual, e que acreditávamos ser uma amostra relevante do que de melhor se vem fazendo no cinema documental. A idos de outubro (a data em que este texto é escrito) temos um plano B.
Dos 7 filmes inicialmente previstos, deixámos cair 2, por questões de calendário, e apresentamos um modelo diferente. Socorremos-nos de chavões já quotidianos: etiqueta respiratória, máscaras, distanciamento físico e gel alcoólico e estamos preparados para tomar de assalto o Teatro Miguel Franco.
Desta feita, avançamos com um hádoc em modo concentrado: 28 de outubro, 11, 12 e 15 de novembro. 4 datas, 5 filmes, que o dia 15 é domingo e propomos-vos uma sessão dupla. Os pormenores estão em www.hadoc.pt, aqui quero só deixar-vos uma breve introdução aos filmes e, dessa forma, abrir o apetite para os 446 minutos de cinema-realidade que programámos. Como é já tradição, a abertura do hádoc fica a cargo de um filme de cariz musical.
Inna de Yard: A Alma da Jamaica é um apaixonante documentário que acompanha a reunião de um grupo de lendários músicos jamaicanos, que fizeram parte da era dourada do reggae, a par de Bob Marley e Peter Tosh, e que passam, agora, o testemunho a uma nova geração.
Os dois filmes seguintes, ainda que de origens e temáticas bastante diferentes, têm em comum o facto de apresentarem protagonistas femininas fortíssimas.
O premiado Para Sama (é um dos dois documentários que apresentamos que estiveram nomeados para os Óscares) é um filme tocante que, nas palavras da própria realizadora, constitui uma carta de amor de uma jovem mãe para a sua filha, que nasce em pleno conflito na Síria.
Já Máxima traz-nos a história de Máxima Acuña, uma agricultora de subsistência peruana, que se torna um símbolo de resistência (sendo inclusive galardoada com o prémio Goldman – o equivalente ao Nobel ambiental) pela sua luta contra a poderosa Newmont, uma empresa mineira que pretende, a todo o custo, prosseguir uma operação de extração de ouro nas terras de Máxima.
O hádoc encerra em forma de matinée domingueira. Não Sejas Parvo é um hilariante e enternecedor retrato da relação entre os irmãos Matthew e Peter, e o seu quotidiano num subúrbio norte-americano.
Honeyland (a tal segunda nomeação aos Óscares e o vencedor do grande prémio do júri, em Sundance) é o documentário que todos deveriam ver este ano. Com uma belíssima fotografia e uma poética abordagem ao modo de vida de Hatidze, uma das últimas apicultoras tradicionais da Macedónia, a mensagem do filme traduz-se na atitude da protagonista: retirar apenas metade do mel da colmeia e deixar o restante para as abelhas.
É assim o hádoc 2020. Até já.
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990