Editorial

Como o Agosto mudou 

3 ago 2023 09:35

A admiração nutrida pelos nossos emigrantes, a pouco e pouco, tem-se transformado numa aversão pelos emigrantes dos outros

O mês de Agosto é tradicionalmente associado a férias, praia, arraiais e romarias. É também o mês escolhido pela maioria dos emigrantes para regressar à terra, matar saudades das especialidades gastronómicas locais, dar um pezinho de dança nas festas da aldeia e passar pelo Santuário de Fátima para recarregar a ‘bateria’ espiritual, que ajudará a vencer mais um ano de trabalho longe das origens e, por vezes, longe da família mais chegada.

Noutros tempos, era o mês em que muitos dos que cá ficavam, sobretudo os que viviam em meio rural, aguardavam com ansiedade a chegada dos conterrâneos, para apreciar as ‘máquinas’ em que se faziam transportar e conhecer os últimos avanços da tecnologia, numa época em que pouco ou nada se falava de globalização.

O sentimento, regra geral, era de admiração, nos vários significados da palavra. Admiração pelas novidades tecnológicas e admiração por quem decidiu cruzar fronteiras à procura de uma vida melhor, ou pelo menos, de uma nova oportunidade.

Hoje, vivemos meses de Agosto iguais, mas diferentes. Os emigrantes continuam a regressar à terra-natal e a ir a Fátima, mas os seus ‘bólides’ já se confundem com o parque automóvel nacional e quase só se diferenciam pela chapa de matrícula. E os arraiais populares começam a ser povoados também por muitos imigrantes. Resultado: a admiração nutrida pelos nossos emigrantes, a pouco e pouco, tem-se transformado numa aversão pelos emigrantes dos outros.

Por estes dias, a nossa região acolheu milhares de jovens estrangeiros, no âmbito da Jornada Mundial da Juventude. Sabendo nós da necessidade de recorrer à imigração para compensar o desequilíbrio demográfico, tem sido confrangedor verificar tanta fragmentação ideológica – e em alguns casos até uma certa mesquinhez – em relação a este evento, quando se podia e devia aproveitar para fazer com que muitos destes ‘turistas’ se sentissem num país de oportunidades e com vontade de voltar.