Opinião

Conseguem ouvir-nos a bater à porta?

30 out 2025 08:01

A crise climática não afeta todos por igual, e são as gerações mais jovens e as comunidades marginalizadas que mais sentirão as suas consequências

A COP30 está mesmo aí à porta. E, mais uma vez, a porta parece estar aberta para uns, porém trancada para outros.

Em novembro, o Brasil acolherá a 30.ª Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas. Também conhecida por Conferência das Partes, é o órgão criado pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (UNFCCC), onde representantes de 198 países se reúnem para avaliar e reforçar os compromissos no combate à crise climática.

Quando se soube que a COP30 seria no Brasil, sentiu-se uma onda de esperança. Não só pelo simbolismo histórico - foi na ECO-92, no Rio de Janeiro, que nasceu a UNFCCC -, mas também pelo papel histórico do Brasil nos movimentos civis pela defesa do ambiente e dos direitos de grupos marginalizados, como povos indígenas, mulheres e jovens. Após edições com resultados muito aquém do necessário, a presidência da COP30 mostrou vontade de deixar para trás as discussões intermináveis (às vezes por causa de uma vírgula) e passar à ação.

Porém, à medida que o evento se aproxima, essa esperança começa a esbater-se. Surgiram críticas à destruição de área florestal para a construção do espaço onde decorrerá a conferência, e, a poucas semanas da COP, foi concedida uma licença à Petrobras para exploração de petróleo na Foz do Amazonas. Como cereja no topo do bolo, somam-se as dificuldades logísticas e económicas que estão a deixar de fora quem mais deveria estar presente: a sociedade civil e a juventude.

Os preços exorbitantes do alojamento, a escassez de voos e as barreiras na obtenção de vistos estão a tornar quase impossível a participação de jovens e organizações independentes. Todos os dias surgem pedidos desesperados de apoio financeiro, numa corrida contra o tempo para garantir presença nas negociações, existindo casos de jovens a pedir empréstimos pessoais para poderem estar onde se decide o seu futuro.

A crise climática não afeta todos por igual, e são as gerações mais jovens e as comunidades marginalizadas que mais sentirão as suas consequências. São também estes grupos que trabalham, maioritariamente de forma voluntária, com as comunidades em projetos de literacia, preservação e mobilização. No entanto, continuam a ser as que mais dificuldades têm para conseguir um lugar à mesa de negociação.

A COP30 poderia ser a “COP da Amazónia” e da “Implementação”. Mas, se não for também a COP da inclusão, continuará a ser apenas mais uma conferência onde muitos decidem por poucos. E onde aqueles que mais têm a perder continuam à porta, a bater para nos deixarem entrar.

Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990