Opinião

CULTURA, UNIVER(CIDADE) E (DES)ENVOLVIMENTO – XIX

10 jan 2017 00:00

Câmaras Municipais e Investigadores Sociais debatem políticas de inclusão

No passado dia 7 de janeiro de 2017, a Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Instituto Politécnico de Leiria (ESECS-IPLeiria) foi palco de um diálogo pouco usual nas sociedades contemporâneas.

Investigadores e autarcas sentaram-se para pensar as políticas sociais que têm estado subjacentes às práticas de acolhimento, apoio aos mais fragilizados socialmente e às populações com identidades diversas que habitam hoje, cada vez mais, o território da nossa região de Leiria.

Foi um momento singular de construção cultural e desenvolvimento na nossa (univer)cidade.

Foi com agrado e muito interesse que a comunidade académica acolheu e discutiu, em mesa redonda, com o Dr. Paulo Baptista dos Santos, presidente da câmara municipal da Batalha, a Dr.ª Ana Valentim, vereadora da Ação Social da Câmara Municipal de Leiria, a Dr.ª Cidália Ferreira, também vereadora da Ação Social mas da Câmara Municipal da Marinha Grande, e o Dr. Diogo Mateus, presidente da Câmara Municipal de Pombal.

A ESECS, através duma organização em rede (Mestrado em Mediação Intercultural e Intervenção Social – MMIIS -, Licenciatura em Educação Social, Licenciatura em Serviço social, CICS.NOVA.IPLeiria, Unidade de Investigação acreditada na Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), Rede de Ensino Superior em Mediação Intercultural (RESMI) e Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti) levou a efeito a sua 4.ª conferência de Mediação Intercultural e Intervenção Social.

O tema escolhido foi Da Mediação Intercultural à Mediação Comunitária, uma vez que a Mediação Intercultural se faz, cada vez mais, de uma forma concertada, em rede, em territórios concretos e os municípios são, por excelência, a instituição mediadora entre o poder central e o poder local.

A mediação comunitária é, assim, considerada o corolário da mediação intercultural porque aplicada a uma comunidade que habita determinado município.

Em consequência, esta mediação (e intervenção social)  implica, primeiro, uma atenção especial à territorialidade das políticas sociais; segundo, um diálogo inter-organizações e inter-instituições de um mesmo município, para que a rede de esforços e objetivos funcione como um todo na prevenção e resolução de tensões e problemas sociais e na intervenção social mediadora (com as pessoas e as populações) com a comunidade e a partir de um minucioso diagnóstico social.

E, claro, isto implica investigação social, comunicação intercultural, investigação de cariz etnográfico e socioantropológico para operar com proximidade com as pessoas e comunidades, Investigação-ação para operar autonomizações e transformações dialógicas e multitópicas (com base numa compreensão feita a partir de vários lugares e não impositiva a partir de um ponto de vista).

Portanto, uma Mediação Intercultural que pretende construir um trabalho em rede e com a rede de mediadores e de mediados.

Temos, assim, em síntese: um município + um território + uma população heterogénea em busca da convivência e da inclusão social onde a transformação é para todos e não apenas para quem chega ou é minoria demográfica ou étnico-cultural.

Foi sobre isto que se escreveu mais um livro, desta vez com investigadores e autarcas a dar à estampa no ano de 2017.

Além da mesa redonda com os autarcas que, amavelmente, aceitaram debater o que fazem nos palcos da vida académica, num sábado à tarde, o evento contou, também, para além dos discursos do diretor da ESECS, doutor Rui Matos e do presidente do IPLeiria, doutor Nuno Mangas, com a apresentação pública de algumas das primeiras dissertações produzidas no âmbito deste mestrado (MMIIS) e com enfoque na região de Leiria: Mediação (re)construtora de projetos de vida, pela mestre Cátia Matias; Da mediação intercultural num GAAF, pela mestre Patrícia Simões; A mediação e a violência doméstica: do trabalho social com os agressores, pela mestre Sandra Ribeiro e Intervenção social com famílias de afeto nas casas de acolhimento para crianças/jovens em perigo.

Auditório lotado e evento transmitido online para todo o Mundo. A (Univer)cidade saiu à rua e os políticos foram à (univer)cidade. Uma partilha a continuar na afirmação da força do trabalho em rede entre o ensino superior (escola de Ciências Sociais, neste caso) e as autarquias.

*Professor Decano do Instituto Politécnico de Leiria
Professor Coordenador Principal ESECS-IPLeiria e CICS.NOVA.IPLeiria

(O autor escreve segundo as regras do "Acordo" Ortográfico de 1992)