Opinião
Da gravata ao “mata-borrão”
Então não é que as gravatas se tornaram num dos principais inimigos da poupança de energia?
Meu Caro Zé:
Estamos em agosto, o “pico” daquilo a que era usual chamar a “silly season”, caracterizada por disparates e inconsistências que reclamavam conversas mais descontraídas.
Só que, tal como as alterações climáticas parecem estar a dar cabo das estações do ano, também o Mundo parece ter tirado o lugar à “silly season”, tendo-se tornado num “manicómio” permanente, em que a inteligência, a coerência, o respeito pela vida e dignidade de cada ser humano e de cada povo são constantemente esmagados.
Mas no meio disto tudo, e para tentarmos preservar uns laivos de bom senso, que não pode prescindir do sentido de humor, vou tentar respeitar o tom típico da normal “silly season”, com uma missiva de tom leve, mas não inocente do ambiente que nos rodeia.
E vou fazê-lo em dois tons: um que tem que ver com o tão badalado incentivo à natalidade e o outro, mais jocoso, que tem a ver com gravatas!
No que diz respeito à natalidade, os incentivos de que fala o governo são “visíveis”.
Já não chegam as dificuldades económicas, designadamente no acesso à habitação, para desincentivar a natalidade.
Agora temos o “mimo” dos serviços de obstetrícia no chamado Serviço Nacional de Saúde, em que as “grávidas” têm medo do que lhes vai acontecer e, consequentemente, quem desejava engravidar se assusta.
A razão indicada nos noticiários governamentais é de que os obstetras foram “desviados” para os privados.
Quem os desviou? Terão sido raptados? Mas o Governo assobia para o lado e a srª ministra continua “de pedra e cal”!
Mas deves estar ansioso para saber das gravatas e tens razão.
Então não é que as gravatas se tornaram num dos principais inimigos da poupança de energia?
É que Pedro Sánchez iniciou a sua campanha de poupança energética em Espanha apresentando-se numa sala sem gravata, explicando que assim se podia poupar energia, pois permitia uma temperatura mais elevada no ar condicionado de uma sala.
Pronto! Problema resolvido!
Mas, então, temos de levar gravata no inverno para permitir uma temperatura mais baixa nos aquecedores.
Ou, então, proíbe-se o uso da gravata (para alguns países um símbolo inconveniente) e passa-se ao uso de gola alta, com efeito no sector têxtil e da confeção e com o inconveniente de não dar para o verão, obrigando ao uso da camisa, que deixa de ter dupla função, com prejuízo da tão apregoada sustentabilidade.
Como o nosso primeiro ministro, como se viu com o acordo sobre o preço do gás, gosta de seguir o exemplo do seu amigo e vizinho e já foi anunciado um plano de poupança energética para Portugal, receio que eu seja obrigado a abdicar da gravata que gosto de usar, pondo em causa os meus direitos.
E como o sr. Presidente da República acabou de afirmar que o nosso Primeiro Ministro absorve tudo como um “mata-borrão”, mais razões tenho para ficar preocupado.
É que em vez de “matar o borrão” seria preferível que não se pusesse o “borrão”, não achas?
Até sempre
Texto escrito segundo as normas do Acordo Ortográfico de 1990