Opinião
Davos por um mundo mais fragmentado
As medidas protecionistas prejudicam os consumidores que terão de pagar mais pelos produtos e serviços
No início do presente ano os representantes das elites dos países mais ricos do planeta convidaram políticos, empresários, banqueiros, lobistas e até celebridades para debaterem o estado do (seu) mundo em Davos nos Alpes Suíços. Este ano o evento teve como tema Cooperação num mundo fragmentado. Um dos principais objetivos deste certame é discutir formas de mitigar os efeitos da guerra na Ucrânia na economia mundial. Todos os participantes defenderam a necessidade de trabalharem em conjunto por forma a construir um futuro sustentável ao nível económico e ambiental.
Infelizmente, para a elite presente em Davos, a forma de “cooperação num mundo fragmentado” é fortalecer as medidas protecionistas que colocam os interesses económicos de cada estado por cima dos interesses do mundo como um todo. O protecionismo é um conjunto de políticas ou doutrinas que favorecem as atividades internas face às externas, restringindo ao máximo a concorrência das empresas externas.
As políticas protecionistas, teoricamente, defendem as empresas e os trabalhadores dentro de um determinado país através da restrição de importações de bens e serviços de países terceiros. Um bom exemplo desta visão limitada e nefasta a médio prazo, é o plano do governo americano chamado Inflation Reduction Act (IRA).
Nesse plano o governo americano pretende investir perto de 750 mil milhões de dólares na próxima década por forma e reforçar a competitividade das empresas americanas e combater a inflação. Como resposta ao IRA a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou um plano europeu de ajudas públicas às empresas europeias
Se numa primeira análise as posições de ambos os blocos, americano e europeu, parecem racionais as mesmas não são mais do que formas dissimuladas de fomento de medidas protecionistas que visam “artificialmente” tornar os produtos americanos e europeus competitivos face aos produtos do resto do mundo, em particular dos países em vias de desenvolvimento.
Nunca é demais relembrar que grande parte das melhorias da qualidade nas últimas décadas do século passado se deveram à redução ou mesmo eliminação de barreiras alfandegárias e ao livre comércio. As medidas protecionistas prejudicam os consumidores que terão de pagar mais pelos produtos e serviços e deixam mesmo de ter acesso a alguns produtos não nacionais.
Também as empresas nacionais serão afetadas visto que a falta de concorrência externa pode levar a um atraso tecnológico irreversível e uma parte, significativa, das empresas apoiadas por dinheiro público acaba por cessar atividade quando deixa de receber esses mesmos fundos. O protecionismo só irá tornar o mundo, ainda, mais fragmentado.