Opinião

De quem é este preservativo? É meu, é meu, é meu…

16 jun 2023 16:38

Quando questiono os meus ex-alunos se os temas relacionados com a sexualidade são abordados nas suas escolas, a grande maioria responde-me que não

O leitor que tenha nascido nos anos 80 ou em décadas anteriores certamente se lembrará de um anúncio da marca de preservativos italiana Control. Um professor com uma postura austera entra numa sala de aula repleta de alunos e encontra uma embalagem com um preservativo perdida no meio do chão.

Chocado e zangado com a situação desconfortável confronta os alunos levantando o objeto e questionando toda a turma: “De quem é isto?”. Um aluno tímido e com um ar comprometido levanta-se da cadeira e responde ao professor: “É meu!”

Depois deste momento o anúncio avança com vários colegas da turma a levantarem-se e a proferirem a mesma frase que o jovem envergonhado, reclamando a propriedade do preservativo e assumindo assim um ato de rebeldia, mas também de solidariedade.

Este célebre anúncio foi lançado na década de 1990 e passava em horário nobre no único canal de televisão portuguesa que existia na altura. A mesma marca de preservativos, nascida no ano de 1946, já antes tinha publicado um anúncio que deixou marcas. Uma mulher e um homem aparentemente nus afirmavam: “Nós fazemos amor com Control”.

A marca obviamente tinha bem definidos os seus objetivos comerciais, mas mesmo assim não se esqueceu da importância de quebrar barreiras essenciais nos tabus existentes numa sociedade retrograda e agarrada a valores ultrapassados.

Um estudo realizado pela Health Behaviour in School-aged Children, com uma amostra de 5809 alunos do 6.º, 8.º, 10.º e 12.º anos, de 40 agrupamentos escolares portugueses, chegou à conclusão que a grande maioria dos jovens iniciam a atividade sexual depois dos 15 anos e que usam cada vez menos preservativo e a pílula contracetiva.

Um dado preocupante e que pode demonstrar o fracasso da Educação Sexual nas escolas. Um programa que teve início no ano de 2009 depois de uma equipa de especialistas o elaborarem com os princípios fundamentais para a prevenção e esclarecimento das dúvidas dos jovens portugueses sobre o afeto e a educação para a sexualidade.

Parece-me que as escolas se estão a esquecer dele e da sua importância e por vezes acabam por não nomear os professores-coordenadores de Saúde que têm dispensa de algumas horas da componente não letiva para se poderem dedicar às questões da saúde dos jovens alunos.

Quando questiono os meus ex-alunos se os temas relacionados com a sexualidade são abordados nas suas escolas, a grande maioria responde-me que não e revelam também que da parte deles o interesse e as dúvidas de sempre existem.

Está na hora da escola pública e não só tirar da gaveta e soprar o pó a um programa que existe e que está pronto a ser implementado. Os alunos agradecem e muito… a sociedade também!