Editorial
Degradação em lume brando
Grave, grave, é continuarmos a assistir ao encerramento das urgências e, agora, ver a PSP obrigada a fechar as portas, por falta de efectivos
O problema não é exclusivo da nossa região, o que se revela ainda mais preocupante. Os empresários dos principais sectores do tecido empresarial queixam-se da falta de mão-de-obra, o grau de execução das obras públicas financiadas pelos fundos comunitários é constantemente colocado em causa por manifesta incapacidade operacional das empresas de construção, as campanhas agrícolas quase se vêem obrigadas a ‘disputar’ trabalhadores, mas, grave, grave, é continuarmos a assistir ao encerramento temporário das urgências nos hospitais do distrito e, agora, ver a PSP obrigada a fechar as portas do edifício do Comando, por falta de efectivos.
No ano passado, a urgência de obstetrícia do hospital de Leiria esteve encerrada 132 dias. Se a ordem para fechar portas fosse cumprida por dias seguidos, estaríamos a falar de quase cinco meses em que as grávidas da região tiveram que ser encaminhadas ou procurar alternativas noutras unidades de saúde mais longínquas. A justificação é a falta de profissionais, que ainda hoje continua a ditar o encerramento do serviço, sobretudo aos fins-de-semana.
Passando da saúde para a segurança, há dois anos, nas comemorações do aniversário do Comando Distrital de Leiria da PSP, em Pombal, o então comandante pediu o reforço do efectivo, lembrando, que, na última década, o quadro tinha perdido cerca de 50 operacionais, o equivalente a mais de 10% do total. Isto, quando, no mesmo período, as competências delegadas na polícia foram sendo ampliadas.
A resposta do então Director Nacional da PSP, Magina da Silva, foi desarmante na sua frieza: “Não vai haver mais recursos humanos. Faça o melhor que sabe e pode com os recursos que lhe são alocados, que é exactamente isso que temos todos que fazer”. Um dos resultados está à vista. No fim-de-semana passado, foi preciso fechar portas na PSP de Leiria e Marrazes, por falta de pessoal.
Será que, mesmo sem querer, nos estamos a deixar levar por esta lenta normalização da degradação do serviço público?