Opinião
Desafios da Covid-19
. O que não posso aceitar é a ligeireza com que o Governo “arrumou” o problema desses cerca de 12.000 docentes que, usando a palavra insistentemente proferida pelo Papa Francisco, são “descartáveis”.
Meu Caro Zé,
Não! Não vou falar da polémica que envolve as eleições do Benfica e do tipo de apoios aos diversos candidatos.
É que uma “pitada” de bom senso teria sido suficiente para evitar esta situação, e há outras situações cuja relevância social deveria ser muito mais preocupante e que passam para segundo plano nas prioridades dos meios de comunicação.
Dou exemplo de duas: uma delas real e outra ainda apenas potencial, mas que vale a pena prevenir.
A primeira tem a ver com a comunicação do Secretário de Estado Adjunto da Educação (o Ministro terá preferido não aparecer a dar notícias destas!) relativa à situação de cerca de 12.000 professores que estão impedidos de estar presentes na escola por terem uma condição clínica que os coloca em grupo de risco.
Há, desde logo, dois erros (não sei se por ignorância, se por estratégia de comunicação): o primeiro na condição “clínica”. O Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, mostra que “clínica, adj, Que se faz junto do leito do doente; relativamente ao tratamento médico do doente”.
O Secretário de Estado confunde “condição de saúde” (de facto potencialmente mais frágil) com “condição clínica” que, esta sim, justifica baixa médica. Na maior parte dos casos esses professores estarão em condições de dar aulas.
Não é a situação deles que põe em causa a possibilidade de as dar. É o maior risco que correm se as derem presencialmente. E isto leva-nos aos segundo erro contido na situação atrás referida.
Os professores não “estão impedidos de estar presentes na escola”. Estarem ou não estarem é uma decisão deles, porque o Governo os impede de dar aulas online (e não confundir com o ensino à distância referido na comunicação).
Perante as condições que lhes são impostas, muitos arriscarão ir às escolas, porque a situação financeira em que serão colocados, se não forem, pode ser-lhes insustentável.
Reconheço que, globalmente, a solução não é fácil e há que garantir as aulas e a consequente substituição de professores. O que não posso aceitar é a ligeireza com que o Governo “arrumou” o problema desses cerca de 12.000 docentes que, usando a palavra insistentemente proferida pelo Papa Francisco, são “descartáveis”.
Já agora uma pergunta: Que acontece quando, como já está a suceder, as turmas forem obrigadas a quarentena e, no limite, ao confinamento?
O segundo problema tem a ver com o modo como se vai gerir e usar a “bazuca” dos fundos europeus.
Recentes declarações do Governo e do Partido Socialista fazem recear que se sintam “donos” de fundos que são para o País, correndo-se o risco de aproveitamentos e favorecimentos partidários, e não só, como tem acontecido ao longo de todos estes anos de aplicação dos fundos europeus.
Como os fundos ainda vão demorar, não seria bom criar um grupo de acompanhamento da sua gestão e aplicação, incorporando cidadãos de grande aceitação social e de reconhecida probidade e competência? Não se perde nada por arriscar a sugestão.
Até sempre,
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990