Editorial
Diferentes formas de vida
Dar uma oportunidade a estas pessoas é também evitar que passem os dias confinadas numa instituição
Um é tratador de cavalos, outro é operário numa fábrica de cerâmica decorativa, o terceiro é um cantoneiro dedicado e a quarta, uma mulher, é considerada “uma trabalhadora cinco estrelas” a limpar morangueiros e a envasar ervas aromáticas.
Quatro exemplos que se destacam no mercado de trabalho na nossa região, não apenas por serem pessoas com algumas limitações físicas, mas por representarem tantas outras a quem, nos últimos anos, tem sido dada a oportunidade de integração laboral, fruto não só da abertura do tecido empresarial, mas também do empenhamento dos centros de educação especial.
Diz quem sabe, por experiência própria, que na maioria dos casos, o resultado é positivo para ambas as partes.
Ou seja, quando uma pessoa com deficiência encaixa bem no ofício que lhe é proposto, revela um grau de entrega surpreendente e, ao mesmo tempo, alcança uma melhoria significativa na capacidade de comunicar e socializar.
Por outro lado, dar uma oportunidade a estas pessoas é também evitar que passem os dias confinadas numa instituição ou condenadas a viver em ambientes familiares por vezes desestruturados e pouco estimulantes, do ponto de vista intelectual e emocional.
O trabalho que publicamos esta semana, nas páginas de abertura, mostra que há uma sensibilidade cada vez maior dos empresários para a integração de pessoas com deficiência nos quadros das suas empresas, mas revela também que nem sempre é suficiente apenas a sensibilidade: é fundamental que o Estado mantenha e reforce os incentivos nesta área, para que não se perca o ritmo na complexa caminhada da integração.
De diferentes níveis de sensibilidade é o que nos fala, também nesta edição, Ana Catarina Infante, responsável pela organização do primeiro curso em Portugal para formar profissionais que ajudam a trabalhar as questões relacionadas com a doença e com a morte.
Uma entrevista que vale a pena ler com atenção, onde a enfermeira, entre muitas outras reflexões, nos alerta para a dificuldade que temos em saber envelhecer e de nem sempre termos a consciência de que “somos nós que nos levamos para o momento da nossa morte”.