Opinião
É só fumaça…
Queixamo-nos muito, lamentamo-nos muito, e dizemos “lá fora é que é bom”. Não é
Dizia Pinheiro de Azevedo no rescaldo da nossa revolução. Depois da talvez mais conhecida expressão “o povo é sereno”. Tenho muito orgulho na nossa revolução. Dessa serenidade que a caracterizou, fazendo-a acontecer sem grandes percalços. Tenho ainda muito mais orgulho no nosso País. No seu todo.
Somos extraordinários. Extraordinariamente extraordinários. “Deste tamanhinho” mas com uma diversidade enorme. De tudo. Praia. Neve. Gastronomia. Arte. Cultura. E tanto mais ainda, incluindo a nossa internacionalmente reconhecida hospitalidade. E tudo dentro do nosso pequeno grande País. Mas mais. A nossa História. A mais longínqua e a mais recente.
Cruzámos mares e demos mundos ao mundo. Inventámos o sextante e a caravela. Circunvoámos o Atlântico pela primeira vez. E a nossa passarola voadora, inventada por Bartolomeu Gusmão, precedeu quase um século o balão de ar quente. Recentemente inventámos os cartões para o telemóvel, a via verde, e sei lá mais o quê… Mas devia saber! Devíamos todos saber! “De cor e salteado”!
Assim como outras coisas mais banais, e comerciais, como cadeias de fast-food ou de vestuário masculino, que se revestem de designações estrangeiras para serem melhor aceites. Dentro do seu próprio país. E é disso que não tenho orgulho. Nenhum! Da nossa falta de orgulho próprio, que nos leva a preferir o que é “de fora” e a achar que o que é nosso é menos bom. Há que mudar esta mentalidade, este nosso pouco orgulho nacional!
Queixamo-nos muito, lamentamo-nos muito, e dizemos “lá fora é que é bom”. Não é. Têm problemas, questões e questiúnculas, como nós por aqui temos. Só que, à distância, parecem-nos menores. O que talvez tenham melhor que nós, é a capacidade de reclamar pelos seus direitos. E não falo desta onda que também sinto de pessoas quererem só direitos e esquecerem-se das obrigações que a eles estão implícitas, e precedem.
Falo da incapacidade de reclamar de forma eficaz e eficiente. De nada serve verbalizar queixas a quem nos atende. Serve sim usar os meios disponíveis a qualquer cidadão para reclamar. O livro de reclamações, físico ou online. De forma útil. Falo-vos habitualmente de saúde e ciência. Mais de saúde nos últimos tempos, é certo. E por isso uso-me desse tema para exemplificar.
De nada serve chegar ao médico, depois de horas, dias ou meses à espera de uma consulta e reclamar com ele. Ou reclamar na Maternidade do Porto o seu filho leiriense ter que nascer lá. Serve sim preencher o livro de reclamações e dizer “faltam médicos neste serviço”. Todos sabemos que sim. Mas todos expressarem-no activa e repetidamente, pelos meios legais disponíveis, é um acto de cidadania. E mostra a quem decide a nossa inquietação. Para este e outros problemas da sociedade. É portanto, obrigação de todos nós fazê-lo. Caso contrário? Caso contrário é só fumaça…